Polícia reforça segurança e fecha Esplanada após prisão domiciliar de Bolsonaro
Por Wilton Junior / O ESTDÃO DE SP
BRASÍLIA - A Polícia Militar do Distrito Federal reforçou a segurança e fechou o acesso à Esplanada dos Ministérios e à Praça dos Três Poderes, em Brasília, na noite desta segunda-feira, 4, após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)Alexandre de Moraesdecretar a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A decisão foi tomada após apoiadores do ex-presidente convocarem um “buzinaço” em protesto à decisão do ministro. O bloqueio tem a impedir que os manifestantes chegassem à Praça dos Três Poderes, onde fica o Supremo Tribunal Federal (STF).
Na madrugada do dia último dia 26, o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ), aliado do ex-presidente, deixou, por ordem de Moraes, o acampamento que havia iniciado horas antes na Praça dos Três Poderes, em greve de silêncio.
O ministro do STF assinou um complemento da decisão proibindo a instalação de novos acampamentos num raio de um quilômetro da Praça dos Três Poderes, da Esplanada dos Ministérios e até mesmo de quartéis das Forças Armadas. Moraes justificou que adotava a medida para evitar um novo 8 de Janeiro.
‘Buzinaço’ e casa de Bolsonaro
Na noite desta segunda-feira, após o bloqueio à Esplanada, apoiadores de Bolsonaro seguiram em carreata de carros e motos, escoltados por uma viatura da Polícia Militar, rumo ao condomínio da residência do ex-presidente, aos gritos de “Fora, Xandão” e “Fora, Moraes”.
“Mais uma arbitrariedade (a decisão de Moraes). Esse cara quer tocar fogo no País. Esse cara quer destruir a democracia brasileira. O povo vai fechar o Brasil”, disse ao Estadão o deputado Zé Trovão (PL-SC).
Questionado sobre o destino da carreata, ele afirmou: “Nós vamos até a frente do condomínio do presidente.” A residência fica no Jardim Botânico, região central de Brasília, a cerca de 20 minutos do Congresso Nacional.
Manifestantes chegaram na frente do condomínio por volta das 23h. Com bandeiras do Brasil, cantaram o hino nacional, fizeram orações pelo ex-presidente e entoaram palavras de ordem, como “O Brasil vai parar” e “Supremo é o povo”, além de ataques a Moraes e ao STF.
Gonet cita indícios de crime de Rui Costa em contrato na Bahia e pede retomada de inquérito no STJ
Por Aguirre Talento / o estadão de sp
BRASÍLIA – O procurador-geral da República, Paulo Gonet, apontou a existência de indícios de envolvimento do ministro da Casa Civil, Rui Costa, em crimes praticados na compra de respiradores durante sua gestão como governador da Bahia. Gonet escreveu que o ex-governador “assinou contrato com previsão de pagamento antecipado integral e sem garantias ao ente público”. Por isso, o procurador-geral da República pediu ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)Flávio Dino, que envie o inquérito sobre esse caso para a retomada das investigações no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Procurado, o gabinete de Dino informou que a petição ainda será analisada.
Procurada, a assessoria de Rui Costa afirmou que a manifestação de Gonet “não agrega nenhum elemento acusatório” e disse que não existem fatos que o vinculem a irregularidades no contrato. A assessoria afirmou ainda que a defesa do ex-governador também opinou que o processo deveria tramitar no STJ.
“Cabe destacar que a nova peça da PGR não agrega nenhum elemento acusatório quanto à conduta do então governador da Bahia e que o próprio Ministério Público já tinha manifestado, em parecer emitido no decorrer do processo, que não existe nenhum fato que vincule Rui Costa a qualquer irregularidade na compra dos respiradores”, diz a nota da assessoria do ministro. Ele também já afirmou anteriormente que determinou a abertura de investigação da Polícia Civil após os respiradores não terem sido entregues.
Prejuízo de R$ 48 milhões
A manifestação sigilosa da PGR foi enviada no final de junho ao ministro Flávio Dino. O Estadão teve acesso com exclusividade ao documento apresentado por Gonet. Trata-se da primeira manifestação do atual procurador-geral da República no inquérito.
O caso envolve um prejuízo de R$ 48 milhões na compra de respiradores pulmonares pelo Consórcio Nordeste em 2020, no início da pandemia da covid-19. Na época, Rui Costa era governador da Bahia e presidente do consórcio. Ele assinou um contrato com uma empresa sem capacidade técnica e autorizou o pagamento adiantado, mas os respiradores nunca foram entregues.
A investigação tramitou no STJ quando Rui Costa era governador, mas foi declinada para a primeira instância da Justiça Federal da Bahia após o fim do seu mandato na gestão estadual. Mais recentemente, o caso foi enviado ao STF por causa das mudanças no entendimento do foro privilegiado.
A investigação está parada desde que foi remetida ao STF, em maio deste ano. Por isso, Gonet solicitou a retomada das apurações. “A manifestação é pelo declínio de competência do presente inquérito e das cautelares a ele correlatas para o Superior Tribunal de Justiça, órgão competente para a continuidade das apurações dos fatos que teriam sido praticados no exercício do cargo de governador do Estado da Bahia”, escreveu.
Em sua manifestação, Gonet apontou que existem suspeitas do envolvimento de Rui Costa e outros agentes públicos em crimes envolvendo essa contratação e citou, entre os delitos investigados, o de dispensa irregular de licitação.
“As investigações, iniciadas pela Polícia Civil da Bahia, revelaram indícios de irregularidades na contratação da Hempcare Pharma, empresa com capital social ínfimo, reduzido número de empregados e sem experiência no ramo médico/hospitalar, mas que logrou firmar um contrato milionário com o Consórcio Nordeste”, escreveu.
O procurador-geral da República afirmou que o inquérito apura a participação de agentes públicos nos crimes investigados, citando a possível atuação de Rui Costa. De acordo com a manifestação da PGR, ele “assinou contrato com previsão de pagamento antecipado integral e sem garantias ao ente público”.
Gonet afirmou ao STF que a nova regra estabelecida para o foro privilegiado indica que o caso deveria voltar a tramitar no STJ, porque envolve fatos da época em que Rui Costa era governador da Bahia.
“No presente caso, os fatos investigados ocorreram durante o período em que Rui Costa exercia o cargo de governador do Estado da Bahia. A prerrogativa de foro, portanto, está diretamente vinculada ao cargo ocupado à época dos fatos e à natureza das funções então desempenhadas”, escreveu.
Prosseguiu o procurador-geral da República: “Ainda que o investigado Rui Costa atualmente ocupe o cargo de Ministro de Estado, o novo entendimento firmado pelo plenário do Supremo Tribunal Federal indica que a competência para processar e julgar os crimes que lhe são imputados, por terem sido supostamente praticados no exercício do mandato de governador e em razão dele, permanece no Superior Tribunal de Justiça”.
Delatora diz que pagou ‘comissão’
O inquérito sobre a compra de respiradores foi aberto pela Polícia Civil da Bahia em 2020, mas enviado ao STJ depois que surgiram os primeiros indícios da participação de Rui Costa nos fatos.
Desde então, o caso é investigado pela Polícia Federal, que já deflagrou duas operações para rastrear o caminho do dinheiro desviado.
A dona da empresa Hempcare, Cristiana Taddeo, fechou uma delação premiada e afirmou ter pagado uma “comissão” de R$ 1,6 milhão a um intermediário do governo da Bahia. Segundo ela, esse intermediário, o empresário Cleber Isaac Soares, se apresentou como amigo de Rui Costa e da então primeira-dama Aline Peixoto e disse ter sido o responsável por sugerir a possibilidade de contratação da Hempcare para fornecimento dos respiradores. Ela também admitiu não ter os documentos necessários para obter o contrato, dentre outras irregularidades.
A defesa da empresária não se manifestou. Já a defesa de Cleber Isaac disse que sua inocência será comprovada no processo. “A defesa de Cleber Isaac Soares Ferraz informa que confia na Justiça e acredita que a situação será resolvida em breve. O advogado criminalista Vinícius Assumpção reitera a convicção de que a inocência de Cleber será comprovada ao longo do processo. A defesa destaca que Cleber Isaac já depôes na CPI dos Respiradores da Assembleia do Rio Grande do Norte para esclarecer o assunto e que está colaborando com a Justiça”, afirmou, em nota.
Leia a íntegra da nota divulgada pela assessoria do ministro da Casa Civil
“Na manifestação citada, a Procuradoria Geral da República mostra-se em acordo com a tese apresentada pela defesa de Rui Costa, na medida em que concorda com a manutenção do processo no Superior Tribunal de Justiça. Essa continuidade do foro decorre de decisões e de jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, consolidadas anteriormente a esse caso concreto, e colabora com a maior celeridade possível para o andamento do processo, como é desejo manifestado publicamente por Rui Costa e pela sua defesa desde o início.
Cabe destacar que a nova peça da PGR não agrega nenhum elemento acusatório quanto à conduta do então governador da Bahia e que o próprio Ministério Público já tinha manifestado, em parecer emitido no decorrer do processo, que não existe nenhum fato que vincule Rui Costa a qualquer irregularidade na compra dos respiradores".
Datafolha: Prisão de Bolsonaro divide brasileiros, e 51% duvidam que ela vá ocorrer
Igor Gielow / FOLHA DE SP
Nova pesquisa do Datafolha mostra que 48% dos brasileiros querem ver Jair Bolsonaro (PL) preso no julgamento da trama golpista de 2022, empatados com os 46% que o desejam livre. Mas 51% acreditam que o ex-presidente vai escapar da cadeia.
O levantamento foi feito à luz da crise entre Estados Unidos e Brasil, com Donald Trump tendo encampado a tese de que Bolsonaro é vítima de perseguição e usado isso como justificativa para impor tarifas de importação mais altas a produtos brasileiros.
A movimentação do presidente americano é apoiada e municiada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Bolsonaro que se mudou para os EUA para tocar a campanha em favor da anistia do pai.
Dos 2.044 ouvidos na terça (29) e na quarta-feira (30), 6% disseram não saber opinar sobre a prisão do ex-mandatário. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.
Em comparação com um levantamento de abril em que as mesmas perguntas foram feitas, houve uma oscilação no limite dessa margem, indicando uma inversão ao menos momentânea de ânimos.
Na rodada anterior, 52% achavam que o ex-presidente merecia ir à prisão, ante 42% que diziam o contrário. Já a avaliação do que deve ocorrer no julgamento previsto para setembro no Supremo Tribunal Federal segue estável: 52% achavam que ele ia escapar, ante 41% que previam o contrário —são 40% agora.
Nos recortes setoriais, nenhuma surpresa. Aderem mais à tese de que Bolsonaro não é culpado eleitores de classe média mais baixa, evangélicos, sulistas, bolsonaristas. Na via inversa, os que mais querem vê-lo preso são aqueles que ganham até 2 salários mínimos, nordestinos e petistas.
Bolsonaro será julgado sob a acusação de ter fomentado um movimento para se manter no poder após a derrota para Lula (PT) no segundo turno de 2022. A trama envolvendo políticos e militares não funcionou, segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República, e desandou nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
O ex-presidente rechaça todas as acusações, que podem dar a ele uma pena de 12 a 43 anos de prisão. O condutor do processo, ministro Alexandre de Moraes, virou alvo de Trump devido à sua atuação.
Perdeu o visto americano após determinar medidas restritivas a Bolsonaro, aliado ideológico do republicano, e agora foi submetido a uma lei que congela nos EUA bens de estrangeiros acusados de violar direitos humanos. A apontada ilegalidade do emprego da medida, desenhada para ditadores e criminosos, deve servir de base a contestação judicial da sanção.
Moraes diz a Lula que não quer atuação do governo em sua defesa nos EUA
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), informou ao governo Lula (PT) que descarta, por ora, uma ação em sua defesa nos EUA.
Por determinação do presidente Lula (PT) e por sugestão de ministros do STF, a AGU (Advocacia-Geral da União) representaria Moraes diante da Justiça dos Estados Unidos para questionar a sanção financeira imposta pelo presidente Donald Trump.
O uso da estrutura da AGU em favor de Moraes tinha sido sacramentado após encontro fora da agenda de Lula com ministros do Supremo na noite de quarta-feira (30).
Moraes disse, no entanto, que dispensaria, por enquanto, a oferta. Durante jantar na noite desta quinta-feira (31), no Palácio da Alvorada, ele afirmou que não pretende estabelecer relação com os EUA. Não está descartada, no entanto, uma atuação da AGU em seu favor em âmbito internacional.
Mostrando-se tranquilo, segundo relato dos participantes do jantar, Moraes também minimizou a possibilidade de sofrer as sanções impostas pelo governo americano em território brasileiro. O magistrado disse ainda que não deixará de exercer seu trabalho diante da ameaça.
Presente ao jantar, o advogado-geral da União, Jorge Messias, disse que respeitará a decisão de Moraes. A proposta do governo foi interpretada como mais um sinal da sintonia com o STF diante da interferência de Trump nos assuntos internos —especialmente em relação ao processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os pedidos por anistia para livrá-lo da possível condenação.
Como a ideia de um processo não foi descartada, o governo ainda espera o curso das decisões nos EUA. São duas hipóteses estudadas no governo para entrar com uma ação nos EUA contra a aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes. Em uma delas, o Executivo pode contratar um escritório de advocacia nos EUA para representar diretamente o ministro.
Outra possibilidade é levar a Suprema Corte dos EUA a debater uma tese sobre a soberania das instituições brasileiras, incluindo o Judiciário, no contexto das sanções americanas contra o Brasil.
Participaram do jantar desta quinta além de Moraes, Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Edson Fachin, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, Jorge Messias, e o procurador-geral, Paulo Gonet.
A reação do governo brasileiro à sanção financeira anunciada por Trump contra Moraes tem sido calculada em detalhes. É resultado de articulações entre Lula, ministros do Supremo, representantes de bancos brasileiros e políticos.
O presidente recebeu na noite de quarta os ministros Barroso, Gilmar e Zanin.
Lula se posicionou com firmeza contra a interferência dos Estados Unidos, segundo um dos participantes do encontro. O petista disse que o momento é crucial para definir o tamanho do Brasil na geopolítica.
Segundo esse relato, o presidente destacou que sua equipe estava disposta a negociar o tarifaço estabelecido por Trump nos termos comerciais. Quando o presidente americano incluiu a situação jurídica de Bolsonaro, o diálogo foi obstruído.
Além de deixar claro que o Brasil não aceitaria negociar temas que podem afetar a soberania nacional, Lula disse aos ministros do Supremo que o governo fará uma defesa incondicional do STF e de Moraes.
A ordem foi repassada aos ministros do núcleo duro de Lula. Gleisi Hoffmann (PT), ministra das Relações Institucionais, tem sido uma das responsáveis por vocalizar o apoio ao ministro do Supremo.
"O STF atua rigorosamente no devido processo legal: os réus tiveram garantia do contraditório e direito de defesa, que entra agora na fase de alegações finais antes do julgamento. É assim que funciona a Justiça, algo que nem Trump nem Bolsonaro querem aceitar", disse.
Em outro sinal de apreço, Lula convidou todos os ministros do STF para o jantar no Palácio da Alvorada. O encontro foi oferecido como um ato de desagravo a Moraes.
Além dos ministros do Supremo, Lula convidou também os ministros Lewandowski e Messias —os dois são os principais interlocutores do governo Lula com o STF.
Do lado do Supremo, os ministros vão aproveitar a retomada dos trabalhos do Judiciário na sexta-feira (1º) para fazer os primeiros discursos públicos em defesa de Moraes e da independência do Judiciário.
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, comunicou aos colegas que abrirá espaço para todos que desejem se pronunciar sobre a ofensiva dos EUA contra Moraes tenham seus minutos no plenário e diante da TV Justiça.
A Lei Magnitsky, aplicada por Trump contra Moraes, foi criada pelo Congresso dos EUA, durante o governo Barack Obama. O objetivo inicial era sancionar membros de governos estrangeiros envolvidos em abusos de direitos humanos —com foco em ditadores e terroristas.
O alvo das sanções fica impedido de ter conta em bancos dos EUA, usar cartão de crédito das bandeiras que operam no país, como Visa e Mastercard, e tem congelados eventuais bens e imóveis que possui no território americano.
A avaliação no Supremo é que a Lei Magnitsky foi indevidamente aplicada contra Moraes porque ele não se enquadra nos parâmetros estabelecidos pela legislação americana. A sanção seria somente uma forma de pressionar o STF contra o julgamento de Bolsonaro pela trama golpista de 2022.
Dois ministros consultados pela Folha acreditam que as sanções contra Moraes terão pouco impacto. O entendimento consolidado no Supremo é que a lei usada por Trump não tem poder sobre outros países —a chamada extraterritorialidade.
Por isso, acredita-se que os bancos no Brasil não devem congelar contas ou suspender os cartões de crédito do ministro.
O receio de alguns aliados de Moraes é que os bancos brasileiros se deparem, mais à frente, com vetos do governo americano para operar no país por causa do descumprimento das sanções.
Nesse cenário, os bancos brasileiros —inclusive os públicos— teriam de tomar uma decisão: ou mantêm Moraes e ficam proibidas de operar nos EUA, ou suspendem o ministro e ficam livres das restrições.
Independente das sanções feitas por Trump e das ameaças de Eduardo Bolsonaro de que mais ministros podem entrar na mira dos Estados Unidos, o Supremo mantém a previsão de julgar o processo da trama golpista em meados de setembro.
Bolsonaro é réu acusado dos crimes de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito, associação criminosa armada, dano qualificado ao patrimônio público e deterioração do patrimônio tombado. As penas máximas, somadas, chegam a 43 anos de prisão.
Justiça mantém cassação e inelegibilidade do prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra
A Justiça Eleitoral manteve, nesta quinta-feira (31), a decisão que determinou a cassação dos mandatos do prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos), e do vice-prefeito, Tarso Magno (Podemos), após seus advogados de defesa entrarem com recurso para mudar a medida, na quarta-feira (30).
“Em síntese, de início observo não restar configurada qualquer nulidade, omissão ou contradição a ser sanada na sentença. Em verdade, o intuito do embargante consiste em rediscutir a distribuição do ônus probatório e o mérito da decisão embargada”, decidiu o Juiz Eleitoral da 28ª Zona, Gustavo Henrique Cardoso Cavalcante.
A defesa dos dois apontava que a decisão da Justiça havia sido incorrida em “nulidade, omissões e contradição”. Ao todo, os embargantes elencaram quatro pontos para que a decisão fosse derrubada.
Por fim, os advogados, de acordo com o texto dessa quinta, queriam que fosse “reconhecida, preliminarmente, a nulidade da sentença, por configurar decisão surpresa”.
ENTENDA A CONDENAÇÃO
Glêdson e Tarso foram condenados por abuso de poder político nas eleições do ano passado. O Juiz Gustavo Henrique também tornou o prefeito inelegível por oito anos.
O processo que levou a inelegibilidade do prefeito foi movido pela coligação derrotada na cidade, encabeçada pelo deputado estadual Fernando Santana (PT).
Na acusação do parlamentar, a gestão de Juazeiro do Norte, sob comando de Glêdson, teria realizado um aumento sem justificativa dos gastos com a aquisição de aparelhos auditivos, óculos e cestas básicas durante o ano eleitoral.
Com a comprovação dessas acusações, o juiz determinou que sejam rezlizadas novas eleições para os cargos de prefeito e vice-prefeito do Município de Juazeiro do Norte, “tendo em vista que os ilícitos perpetrados macularam a legitimidade do pleito”.
Na quarta, ao Diário do Nordeste, o prefeito confirmou que iria recorrer da decisão. A reportagem entrou em contato mais uma vez, para saber o que o gestor fará em face da nova determinação.
STF libera pagamento da 4ª parcela dos precatórios do Fundef a professores do Ceará
O governador Elmano de Freitas (PT) anunciou, nesta terça-feira (29), a liberação da 4ª parcela do pagamento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) aos professores cearenses.
“Grande notícia para os professores cearenses! O STF determinou a liberação dos recursos para o pagamento da 4ª parcela do Fundef referente a ação movida pelo nosso Governo do Estado”, informou o governador, em postagem nas redes sociais.
Segundo o gestor, serão mais de R$ 260 milhões distribuídos para os professores do Ceará.
“Logo que o recurso chegar, faremos o repasse o mais rápido possível. Uma vitória para ser comemorada por todos nós”, comunicou ainda Elmano.
Mauro Cid diz que foi ‘traído’ pela PGR que o mandou para o ‘fuzilamento’ e pede absolvição
Por Nino Guimarães e Fausto Macedo / O ESTADÃO DE SP
A defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e delator na ação do golpe, pediu, nesta terça-feira, 29, a absolvição do militar. Em 78 páginas, os advogados apresentaram as alegações finais. Eles afirmam que Mauro Cid se sente ‘traído’ pela Procuradoria-Geral da República que pediu sua condenação.
“O que se viu foi uma deturpação das informações fornecidas, em ilações convertidas em insumo para atribuir-lhe crimes que jamais cometeu ou poderia cometer”, afirma a defesa.
Segundo seus advogados, Mauro Cid ‘sente-se, sim, traído pelo órgão acusador que se valeu da sua boa-fé para construir uma acusação desconectada da realidade fática, da materialidade típica e do seu próprio relato para ao final mandá-lo para o fuzilamento’, destaca.
Na página 17, ele diz que estava em posição de ‘extrema vulnerabilidade ao colaborar espontaneamente com as autoridades judiciárias, mesmo ciente de que sua postura enfrentaria forte resistência, represálias e de certa forma, coação por parte de seus antigos aliados, superiores e demais corréus - especialmente os ligados ao ex-presidente Jair Messias Bolsonaro’.
O militar afirma que a estratégia da PGR foi ‘desproporcional’, uma vez que ele ‘optou voluntariamente por colaborar com as investigações, prestando esclarecimentos amplos, objetivos e úteis ao deslinde dos fatos’.
Para Cid, ele exercia um papel ‘papel coadjuvante como ajudante de ordens, embora próximo do ex-presidente Bolsonaro, exercendo sua função de assessoramento que era limitada, sem poderes decisórios ou de influência no planejamento de eventos que a PGR aponta serem criminosos’.
A manifestação final da defesa de Cid, destaca que ‘sua colaboração se deu com o compromisso ético de romper o silêncio e oferecer à Justiça informações verídicas, confiando na integridade do sistema penal e no dever institucional do Parquet em promover a responsabilização somente com base em provas e na estrita legalidade’.
No dia 15 de julho, a Procuradoria-Geral da República apresentou as alegações finais da acusação no ‘núcleo crucial’ do plano de golpe de Estado. A manifestação pede a condenação de Mauro Cid, mas ressalta a possibilidade de favorecimento pelo acordo firmado de colaboração premiada.
Para a PGR, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro teve um papel relevante em reuniões estratégias com militares. “Praticamente todos os encontros clandestinos narrados na denúncia contaram com a organização ou participação do réu.”
O procurador-geral Paulo Gonet sugere que Cid se beneficie apenas da redução da pena implica, consequentemente, na perda do direito à conversão automática da pena de prisão em restritiva de direitos, por exemplo.
Os advogados Cezar Roberto Bitencourt, Vania Adorno Bitencourt e Jair Alvez Pereira sustentam que a acusação pediu a condenação de Mauro Cid ‘não por suas ações concretas, mas por sua posição simbólica, sua função pública de proximidade ao poder e pela gravidade dos fatos em si’.
“Acusar e condenar sem prova é trair a Constituição”, segue a defesa. “Tal prática inverte a lógica do sistema penal, transformando o réu-colaborador em um símbolo de punição exemplar - ainda que dissociado de qualquer participação material, intelectual ou mesmo presencial nos fatos.”
A manifestação destaca que ‘pior do que condenar sem provas, é condenar sem provas justamente aquele que - com coragem e boa-fé - escolheu colaborar com a verdade’.
“Mauro Cid foi reduzido a mero instrumento de acusação: útil enquanto servia à narrativa pretendida. E, no instante em que não interessou mais ao roteiro acusatório, deixou de ser um colaborador protegido, e foi descartado”, afirma a defesa.
Em suas alegações finais, Mauro Cid pede absolvição, sustentando que cabe à ‘Corte Suprema reafirmar, perante a sociedade e a posteridade, que colaborar com a verdade não é um risco, mas um ato de coragem e um compromisso ético com a Justiça’.
Operação da PF mira emendas a ONG em contrato com Ministério do Esporte
Constança Rezende / folha de sp
A Polícia Federal e a CGU (Controladoria-Geral da União) deflagraram, nesta terça-feira (29), a Operação Korban, que investiga o desvio de recursos públicos de emendas parlamentares destinados à realização de eventos de esportes digitais.
A ação busca esclarecer possíveis irregularidades na execução de cerca de R$ 15 milhões em recursos públicos federais repassados à Associação Moriá, no Distrito Federal, em contratos com o Ministério do Esporte.
O objetivo desses repasses foi realizar jogos estudantis de esportes digitais (Jedis) entre 2023 e 2024. A pasta é comandada desde setembro de 2023 pelo deputado licenciado André Fufuca (PP). A assessoria do ministério foi procurada pela reportagem, mas ainda não respondeu.
A operação cumpriu 17 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo STF (Supremo Tribunal Federal), em endereços ligados à Associação Moriá, a cinco de seus dirigentes, a seis empresas subcontratadas e aos seus respectivos sócios, nos estados do Acre, Paraná e Goiás, além do Distrito Federal.
As emendas foco desta operação tiveram autoria do senador Izalci Lucas (PL-DF) e da então senadora Rose de Freitas. Ele não foram alvos da operação. O senador foi procurado pela reportagem e ainda não respondeu.
As diligências identificaram indícios de três tipos de fraudes nos convênios em análise. Um deles foi o potencial direcionamento indevido em subcontratações da associação, devido ao vínculo em comum com três das principais terceirizadas. Isto teria descumprido requisitos de lisura de cotações e sinais de falsificação de parte dos orçamentos e propostas.
Os investigadores também detectaram um aparente conluio entre empresas envolvidas nas terceirizações dos jogos, possivelmente com a anuência da própria associação. Segundo esta análise, acumulam-se indícios de montagem de cotações prévias e desinteresse das companhias em competirem entre si.
Também foram encontradas duas companhias subcontratadas pela associação que reúnem elementos típicos de empresas de fachada, como falta de sede administrativa compatível, carência de quadro de funcionários e ausência de serviços anteriores prestados.
O STF determinou medidas de sequestro de bens, como veículos e imóveis, além do bloqueio de contas bancárias de empresas investigadas. Segundo a CGU, as medidas de indisponibilidade patrimonial podem alcançar R$ 25 milhões.
A ONG, com breve histórico de atuação em Anápolis (GO), recebeu mais de R$ 90 milhões em 26 emendas parlamentares nos últimos três anos para ações que vão de competições de jogos eletrônicos em dez estados a controle de zoonoses no Acre.
Nas ações de games, maior foco da entidade com o uso de emendas, boa parte dos recursos recebidos foi atribuída a aluguéis de computadores com valor equivalente a 11 vezes o preço de compra. A ONG ainda usa cerca de 40% do dinheiro das emendas em festas de abertura ou encerramento. A associação estava entre as dez ONGs na mira de um relatório da CGU.
O órgão de controle encaminhou detalhes ao STF sobre essas organizações após determinação do ministro Flávio Dino para um pente-fino em despesas com emendas. Com relação à Moriá, identificou gastos "evitáveis" de R$ 1,7 milhão somente em dois desses convênios. A Controladoria também aponta "ausência de análise crítica" na aprovação de orçamentos pelo governo federal.
Fux rompe padrão punitivista e lidera divergências contra Moraes em processos contra bolsonaristas
Por Hugo Henud / O ESTADÃO DE SP
Na última semana, Luiz Fux divergiu novamente de Alexandre de Moraes e contestou as medidas restritivas impostas a Jair Bolsonaro. O voto marca uma guinada do ministro, que passou a liderar as divergências contra Moraes, votando em sentido oposto em cerca de 21% dos casos - a maioria deles relacionada ao 8 de Janeiro e à investigação sobre a tentativa de golpe, na qual Bolsonaro é réu. A posição reforça um padrão recente e contrasta com o histórico de Fux, tradicionalmente associado a posições mais duras em matéria penal, como nos julgamentos do Mensalão e da Operação Lava Jato.
Levantamento do Estadão, com base na plataforma Corte Aberta, mostra que, desde 2023, Fux é o ministro que mais divergiu em ações penais relatadas por Moraes na Primeira Turma do STF. De 100 processos, o ministro votou contra o relator em cerca de 21% dos casos e lidera o número de pedidos de vista, com 11 solicitações que suspenderam temporariamente os julgamentos para permitir uma análise mais aprofundada. A maioria dos processos envolve réus dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, incluindo o próprio ex-presidente Bolsonaro.
Já entre 2019 e 2022, em 108 ações penais relatadas por Moraes e outros ministros e julgadas no Plenário do STF, Fux divergiu em cerca de 9% dos casos. Fux foi o último a votar na decisão de Moraes que impôs cautelares a Bolsonaro, que incluem, entre outras medidas, o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de acessar redes sociais. As restrições foram determinadas no âmbito da investigação que apura uma suposta atuação coordenada entre o ex-presidente e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, para coagir o Supremo, por meio de autoridades americanas, e tentar reverter a ação penal do golpe, na qual Bolsonaro é réu.
O dado reforça um movimento recente do ministro, avalia o pesquisador da UFMG Shandor Torok, especialista no comportamento judicial do STF. Ele destaca a mudança brusca de postura de Fux, a despeito da gravidade dos crimes investigados. Torok lembra que, ao longo da trajetória no Supremo, Fux teve uma atuação marcada pelo rigor punitivista, o que contrasta com o posicionamento adotado nos últimos julgamentos da Primeira Turma. “Justamente nesses casos, Fux faz uma guinada de 180 graus e se revela um garantista”, afirma.
Esse movimento não tem sido isolado. O ministro tem se notabilizado por abrir contrapontos com os demais integrantes da Primeira Turma em temas relacionados ao 8 de janeiro, especialmente na dosimetria das penas dos condenados. Foi o que ocorreu, por exemplo, no caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou, com batom, a frase “Perdeu, mané” na estátua A Justiça, em frente ao prédio do Supremo. Fux pediu vista do processo e, posteriormente, divergiu da pena proposta por Moraes, que fixou 14 anos de prisão e foi seguido pela maioria. Para Fux, a pena adequada seria de 1 ano e 6 meses.
Além disso, Fux também fez ressalvas durante o recebimento da denúncia contra o núcleo central do golpe, que tem como réu Bolsonaro. Na ocasião, embora tenha votado a favor do recebimento da denúncia contra todos os acusados, ele foi o único ministro a acolher uma das preliminares da defesa: a de que o processo deveria ir para instâncias inferiores ou, caso permanecesse no STF, ser julgado pelo Plenário, e não pela Primeira Turma.
Ao mesmo tempo em que adota um posicionamento mais garantista nesses processos, Fux mantém seu perfil rígido em decisões individuais sobre liberdade. Entre 2023 e 2025, concedeu apenas 0,84% dos habeas corpus e recursos apresentados para contestar prisões supostamente ilegais ou abusivas, um dos índices mais baixos da Corte. Para o criminalista e pesquisador David Metzker, responsável pelo levantamento, a variação decorre do perfil do ministro. “São dados que ajudam a compreender, com base empírica, como a Suprema Corte tem atuado na tutela da liberdade”, diz.
A rigidez nos pedidos de liberdade acompanha a trajetória de Fux, marcada por posições firmes em matéria penal desde que chegou ao STF, em 2011. Ele votou de forma dura em casos como o Mensalão e a Lava Jato, defendeu a prisão após condenação em segunda instância e relativizou o princípio do in dubio pro reo, segundo o qual, na dúvida, a decisão deve favorecer o réu. Da mesma forma, resistiu ao uso - em favor da defesa - das mensagens obtidas por hackers entre procuradores da Lava Jato e o então juiz Sergio Moro, e negou o pedido de entrevista de Lula enquanto este estava preso.
Para o professor do Insper e pesquisador da USP Luiz Gomes Esteves, o comportamento de Fux nos casos ligados a Bolsonaro e ao 8 de Janeiro não reflete, necessariamente, uma mudança de convicção jurídica, mas sim uma reação ao contexto do momento. “São pontos fora da curva no histórico do tribunal”, afirma. Segundo ele, a postura mais garantista do ministro nesses processos pode sinalizar uma inflexão política, e não uma guinada doutrinária. “Não se trata, necessariamente, de uma mudança geral de entendimento sobre o direito penal, mas pode indicar um posicionamento específico diante de ações com forte carga simbólica e institucional.”
Na mesma linha, Torok pontua que Fux construiu sua trajetória no Supremo como um ministro de perfil punitivista, reconhecido pela rigidez na interpretação da lei penal e pela postura dura contra os réus. Para ele, trata-se de uma mudança que “salta aos olhos”, embora não seja possível afirmar com precisão se decorre de uma inflexão pontual, estratégica ou de uma transformação mais ampla, podendo resultar de uma combinação de fatores. “Essa mudança pode decorrer de várias razões, desde uma improvável transformação na forma como Fux passará a decidir em todos os casos penais daqui em diante, até um eventual alinhamento político com o bolsonarismo”, diz.
Torok também lembra que juízes, em geral, mantêm padrões interpretativos relativamente estáveis, sendo raras guinadas bruscas de posicionamento, embora reconheça que julgadores podem calibrar o rigor conforme o perfil do réu. Nesse sentido, aponta, Fux pode estar encarnando o que chama de “garantista de ocasião”. “Julgadores que adotam maior rigor em função do perfil específico do réu”, explica.
Divergência pode contribuir para decisões mais legítimas
Apesar da inflexão de Fux, Torok e Esteves avaliam que a divergência entre os ministros é, em si, positiva, na medida em que o dissenso contribui para tornar as decisões mais robustas e legítimas, sobretudo em um cenário de desgaste institucional, após os ataques sofridos pela Corte durante o governo Bolsonaro. Ainda assim, Torok pondera que nem toda divergência é igualmente fundamentada. Ao citar o voto de Fux no julgamento das medidas cautelares contra Bolsonaro, ele afirma que a posição do ministro levanta questionamentos sobre a consistência dos argumentos apresentados.
“É difícil compreender um dissenso baseado em alegações genéricas, que poderiam se aplicar a praticamente qualquer outro processo”, completa.
Operações sobre desvios milionários se multiplicam em órgão cobiçado por partidos
José Marques / FROLHA DE SP
O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) foi alvo de pelo menos 11 operações da Polícia Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União) desde 2018. O órgão é cobiçado por partidos políticos, com uma influência que se estende por diferentes governos.
As investigações têm o objetivo de combater o desvio de dinheiro público em estados de todas as regiões do país. Os inquéritos envolvem suspeitas de fraude em licitação, cobrança de propina, direcionamento de obras e superfaturamento. Os casos tramitam sob sigilo.
Na última semana, uma ação realizada pela PF teve entre os alvos um suplente de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado. O parlamentar não é investigado.
O órgão, atualmente vinculado ao Ministério dos Transportes, é palco histórico de escândalos de corrupção e de atuação de partidos, por ser responsável por obras em rodovias e ferrovias federais espalhadas pelas bases eleitorais dos políticos.
No primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), em 2011, suspeitas de irregularidades levaram ao afastamento da cúpula do Dnit e resultaram em um pedido de demissão do então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento.
A pasta era comandada à época pelo PR, que se tornou o atual o PL —Nascimento foi presidente do partido—, e seguiu sob controle a legenda durante o governo de Michel Temer (MDB).
Atualmente, o Ministério dos Transportes é chefiado por Renan Filho, ex-governador alagoano filiado ao MDB. O Dnit é dirigido pelo ex-superintendente do órgão em Alagoas Fabricio de Oliveira Galvão.
O departamento afirma que atua constantemente para prevenir e sanar casos de fraude e corrupção e, muitas vezes, detecta indícios de irregularidades e os encaminha para órgãos de investigação. Segundo o departamento, esse foi o caso da operação no Amapá.
Mesmo com trocas de gestões presidenciais e de ministérios, as suspeitas sobre irregularidades em obras e ações do órgão não cessaram.
Só uma dessas operações, chamada Rota BR-090, teve oito fases deflagradas de 2019 a 2023. A investigação levantou desconfianças sobre desvios em contratos de mais de R$ 2 bilhões em Minas Gerais.
Outra operação foi a Círculo Fechado, de 2020, centralizada no Distrito Federal. O caso envolveu a suspeita de desvio até em contratações feitas na área de tecnologia da informação e resultou no bloqueio de R$ 40 milhões dos investigados.
À época, houve busca e apreensão em endereços do atual secretário de Obras do governo Ibaneis Rocha (MDB), Valter Casimiro, que dirigiu o Dnit nas gestões Dilma e Temer.
Ele não foi alvo de denúncia do Ministério Público Federal nesse caso. Ações relacionadas a esse processo tiveram denúncia apresentada à Justiça Federal em março deste ano.
Procurado, Casimiro disse que "não comenta atividades da Polícia Federal e iniciativas do Poder Judiciário e do Ministério Público".
Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o Dnit estava vinculado ao Ministério da Infraestrutura, pasta comandada por Tarcísio de Freitas, à época apontado como um nome técnico e que, depois, se tornaria governador de São Paulo pelo Republicanos.
Em 2021, o então diretor de Infraestrutura Rodoviária, Marcelo Almeida Pinheiro Chagas, foi afastado do cargo sob suspeita de favorecer uma empresa de Goiás. Em seguida, ele foi exonerado. A reportagem não conseguiu localizar Chagas.
O Amapá, estado de Alcolumbre, tem sido alvo recorrente dessas ações policiais. Na terça-feira (22), o chefe do órgão no estado, Marcello Vieira Linhares, que é ligado a Alcolumbre, foi afastado por dez dias do cargo pela Justiça Federal.
Alcolumbre não é investigado e, até o momento, não há registro de participação dele nas suspeitas. A operação, que se chamou Route 156, apura suspeitas de direcionamento de concorrências públicas e desvios na rodovia federal com o mesmo número.
A PF diz suspeitar que a organização que fazia os desvios no Dnit era comandada por Marcello, que atuava em conluio com empresários. Um desses empresários seria Breno Barbosa Chaves Pinto, segundo suplente de Alcolumbre.
Breno, diz a PF, "se utilizava de sua proximidade com o senador para, a pretexto de influir em atos de agente público, obter vantagens indevidas".
Relatórios de inteligência financeira apontam que uma empresa de Breno fez saques em espécie no valor de R$ 2,3 milhões, o que os investigadores consideram "forte indício de ocultação da destinação final dos recursos e de lavagem de ativos".
Após a ação policial, Alcolumbre afirmou em comunicado que "não possui qualquer relação com as empresas citadas na operação" e nem com a atuação empresarial de seu segundo suplente.
"Alcolumbre reitera seu respeito às instituições e entende que todos os envolvidos devem prestar os devidos esclarecimentos à Justiça, respeitado o devido processo legal."
Também procurado, Breno disse que agora teve acesso ao inquérito e que está "tomando ciência das questões citadas para poder se manifestar". A reportagem não conseguiu localizar Marcello ou sua defesa.
Em nota, o Dnit afirmou que "está fortemente comprometido em manter altos padrões de integridade e atua constantemente para prevenir, remediar e sanar casos de fraude e corrupção".
"Em muitos casos, o próprio Dnit detecta indícios de irregularidades e prontamente encaminha essas situações para os órgãos competentes, como CGU, TCU (Tribunal de Contas da União) e Ministério Público, como foi o caso da recente operação denominada 'Route 156'", diz o órgão.
O órgão também afirma que os próprios servidores podem fazer esse tipo de denúncia e que, embora o órgão tenha competências limitadas para apuração direta, "colabora estreitamente com controle interno e externo para assegurar a eficácia das investigações".
A nota afirma ainda que existe uma política antifraude, anticorrupção e de prevenção de conflitos de interesses no Dnit, que faz parte de uma iniciativa anticorrupção do TCU e de redes de controle de gestão pública do Brasil.
"A autarquia também mantém práticas de transparência em suas operações, garantindo que as informações sejam acessíveis e compreensíveis ao público, permitindo o amplo controle social, que é um pilar da boa governança."
Operações sobre o Dnit desde 2018
Amapá
- Route 156
- Pedágio
- Candidus
Minas Gerais
- Empáfia
- Rota BR-090
Distrito Federal
- Circuito Fechado
- Burolano
Goiás
- Daia
Espírito Santo
- Folha de Conto
Paraná
- Rolo Compressor
Ceará
- Mão Dupla