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Mendonça bloqueia bens de dirigente do Solidariedade em investigação contra descontos no INSS

Por Gustavo Côrtes / O ESTADÃO DE SP

 

BRASÍLIA – A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça que bloqueou R$ 389 milhões em bens de diretores do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas (Sindnapi) atingiu um dirigente do Solidariedade. Luiz Antonio Adriano da Silva é secretário nacional da legenda comandada pelo deputado federal Paulinho da Força (SP) e ocupou cargo de diretor na entidade, envolvida na operação Sem Desconto por cobranças ilegais a aposentados.

 

As investigações apontam que Silva e sua mulher, Camilla Russo Varo, integraram um “círculo de operações suspeitas”. Ela teria participado de transferências de R$ 410 mil realizadas entre membros do Sindinapi, seus familiares e empresas de fachada. As movimentações constam em relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).

 

Silva deixou o cargo no Sindnapi devido a desentendimentos com o presidente da entidade, Milton Baptista de Souza Filho, adversário de Paulinho da Força. O sindicato tem como vice-presidente José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele não está entre os investigados.

 

Mendonça também bloqueou bens do diretor nacional tesoureiro, Anísio Ferreira de Sousa, do diretor de assuntos previdenciários, Carlos Cavalcante de Lacerda, e do espólio do ex-presidente do Sindnapi João Batista Inocentini, o João Feio, morto em 2023.

Bolsonarista deve responder em liberdade

Fernando Gabeira / Jornalista e escritor / O GLOBO
Há pouco mais de dois meses, falei dela numa entrevista ao canal MyNews. Falei de modo geral: uma presa política em condições precárias, em Três Corações, Minas Gerais. Fui criticado por me interessar por alguém de direita. Houve quem dissesse que inventei o caso. Hoje, serei um pouco mais específico.
 
Ela se chama Alexandra Aparecida da Silva, tem 43 anos, é ré primária, bons antecedentes. Usava uma tornozeleira eletrônica em sua pequena cidade de Fama, às margens do Lago de Furnas. De repente, foi levada para a prisão, onde sofre muito. Tem um nódulo na mama, esperando biópsia, um cisto no punho e sangramento retal. Não se trata de anistia, muito menos de dosagem de pena. Ainda não foi julgada.
 
É conhecida por Leca. Depois de presa pela primeira vez em Brasília, seu casamento foi para o espaço. Vivia precariamente, cuidando de nove cachorros. Estava na capital apenas no dia 9 de janeiro de 2023. Seu ônibus quebrou e se atrasou. Não participou de invasão aos prédios públicos. Mas suas redes sociais eram claras: adepta de Bolsonaro, bandeiras do Brasil, ilusão de estar salvando o país — essas coisas.
 

Quando deixou a prisão de Brasília e voltou para sua pequena cidade, Leca precisava trabalhar. Tinha de se apresentar todas as semanas à Justiça, na cidade vizinha Paraguaçu. Não havia muito como se mexer: seu dinheiro não dava para frequentar o restaurante da Rita, no máximo algumas idas à farmácia do Vantuil.

 

Leca teve a chance de se livrar do processo. Era um acordo em que tinha de admitir sua culpa. Preferiu não assinar nada, era mais verdadeiro. Nas suas saídas para o trabalho, alguém a fotografou. Denunciada, foi para a cadeia. A pequena cidade cuida dos seus cachorros e se cotiza para pagar o advogado.

 

Ninguém a vê como perigo à democracia. Pelo contrário, alguns começam a duvidar se a democracia não é o perigo. Nem todos sabem que o Brasil mudou muito com o fim da ditadura. Entramos em presídios, implodimos o da Ilha Grande, visitamos inúmeros hospícios. Era um movimento de esquerda, é verdade. Mas isso não se define por esquerda e direita. Transcende essa divisão. O escritor Henry David Thoreau costumava dizer que, para conhecer um país, é preciso visitar suas cadeias.

 

No meu entender, está em jogo em todo esse trabalho punitivo a própria imagem da democracia. A maneira como se processa, julga e determina a prisão é, na verdade, um palco onde os holofotes estão nos vencedores. Representam algo de fato distinto ou são apenas a continuidade de uma insensibilidade histórica?

Não acuso o Supremo, apenas tenho dito que assumir a responsabilidade de milhares de processos significa também ter algum controle sobre o dia a dia das prisões. O modesto pai de Leca foi visitá-la em Três Corações. A penitenciária impediu sua entrada, dizendo que não se vestia adequadamente. O homem saiu para comprar uma calça e camiseta, lançando mão de suas economias. Quando voltou ao presídio, disseram: — Acabou o horário de visitas.

 

O mundo está cheio dessas micromaldades. Não consigo ignorá-las. Por isso peço a Alexandre de Moraes que considere processar Leca em liberdade. Ela precisa cuidar da saúde, dos seus nove cachorros, e a pequena cidade de Fama respirará aliviada com sua volta.

PF diz que vai investigar relação do grupo J&F, dono da JBS, com lobista que vendeu decisões do STJ

Por Aguirre Talento / O ESTADÃO DE SP

 

 

BRASÍLIA - A Polícia Federal afirmou, no relatório parcial sobre venda de sentenças do Superior Tribunal de Justiça (STJ) apresentado nesta semana, que vai abrir uma nova frente de investigação para apurar a relação do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves com o grupo empresarial J&F, dono da JBSDiálogos, transações financeiras e processos no STJ indicam que o lobista foi contratado para atuar para a J&F. Sua esposa, a advogada Mirian Ribeiro Gonçalves, também investigada no esquema de venda de decisões, foi constituída como advogada em diversos processos do grupo empresarial.

 

Procurada, a JBS informou que os pagamentos são referentes a honorários e que o escritório não presta mais serviços à empresa. “Qualquer pagamento feito ao escritório da advogada se refere a honorários - êxito ou pró-labore - em processos da empresa. Todos os serviços possuem efetiva comprovação nos autos desses procedimentos. O escritório não presta mais serviços para a JBS”, disse a maior produtora de proteína do mundo. A defesa do lobista também foi procurada pela reportagem, mas não se manifestou.

 

A PF cita um dos diálogos mantidos por Andreson a respeito dos serviços à JBS para reforçar a necessidade de investigar o caso. “No diálogo, além de mencionar cifras expressivas, denota-se que Andreson destacou que o processo estava ligado ao ‘pessoal do Sr. Zé Mineiro’, em referência a José Batista Sobrinho, fundador da JBS, maior empresa do setor de carnes do mundo e pai de Joesley e Wesley Batista, empresários amplamente conhecidos por episódios de repercussão nacional”, diz a PF.

 

Em outra conversa, Andreson afirmou ter recebido R$ 19 milhões do grupo por causa da atuação em um processo no STJ. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ainda detectou transferências de R$ 15 milhões da empresa JBS para o escritório de Mirian.

 

“Diante da quantidade de informações que apontam para a relação de Andreson e Mirian Ribeiro com o Grupo JBS e a complexidade desses elementos probatórios, consigna-se que essa vertente será mais bem aprofundada em procedimento investigativo autônomo”, escreveu a PF.

 

As informações foram remetidas ao relator do caso, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin, que deve ainda deliberar sobre as novas frentes de apuração.

 

Os irmãos Joesley e Wesley Batista já foram alvo de investigações dentro da Operação Lava Jato e fizeram até um acordo de delação premiada. O então diretor jurídico Francisco de Assis também aderiu ao acordo na época e disse ter feito pagamentos a um advogado com o objetivo de cooptar um procurador da investigação. Essas acusações posteriormente foram arquivadas na Justiça.

PF pede a Zanin para aprofundar investigação sobre filha de ministro do STJ e assessores da Corte

Por Aguirre Talento / O ESTADÃO DE SP

 

 

BRASÍLIA - A Polícia Federal solicitou ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin autorização para aprofundar a investigação sobre vendas de decisões judiciais no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A PF quer apurar o envolvimento de novos personagens e também a atuação da filha de um ministro da Corte. Zanin é relator do caso no inquérito que trata do assunto e tramita no Supremo.

 

No relatório parcial, a PF afirmou que o núcleo central do esquema criminoso de compra de decisões judiciais é ocupado pela empresa Fource e seus sócios, Haroldo Augusto Filho e Valdoir Slapak. A PF apontou que Haroldo tinha “influência direta” em gabinetes do STJ e citou como exemplo o relacionamento pessoal do empresário com a advogada Catarina Buzzi, filha do ministro do STJ Marco Buzzi.

 

A Fource, Catarina e Marco Buzzi foram procurados na noite de quinta-feira, 9, mas não responderam. Questionada anteriormente sobre esses fatos, Catarina Buzzi afirmou que nunca atuou em processos de interesse de Haroldo que tramitaram no gabinete de seu pai. O gabinete do ministro também já afirmou que não tem conhecimento das relações de sua filha e que não proferiu decisões favoráveis aos interesses do empresário. A defesa de Haroldo não havia se manifestado sobre esses fatos.

Segundo a PF, além de manter relação com esses gabinetes, Haroldo também contratava para os serviços ilícitos o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves e o advogado Roberto Zampieri, que foi assassinado em dezembro de 2023.

 

O Estadão antecipou, em julho, que a PF apurava vínculos do empresário com familiares de ministros do STJ e que Haroldo tentou organizar um jantar para o ministro Marco Buzzi. O Estadão também revelou que o escritório de advocacia de Catarina funcionava em um imóvel pertencente à Fource --ela disse pagar aluguel pelas salas.

 

“O trânsito direto da Fource, por meio de Haroldo, lhe proporcionava espaço privilegiado para patrocinar eventos jurídicos de grande repercussão, nos quais buscava, notadamente, aproximar-se de autoridades. Inclusive, essa inserção alcançava também relações pessoais, como se observa na interlocução de Haroldo com a filha do ministro Marco Buzzi, a advogada Catarina Buzzi, que, em seguida, chegou a estabelecer contato com Roberto Zampieri”, diz o relatório.

De acordo com o inquérito, essa deve ser uma das novas frentes de apuração do caso.

 

“Tais elementos, contudo, por envolverem outras unidades jurisdicionais, serão tratados em procedimento próprio, de modo a evitar a dispersão do objeto e garantir a efetividade das investigações. Em síntese, os elementos reunidos indicam que o grupo Fource Consultoria/Participações, sob o comando de Haroldo e Valdoir, estruturou-se como pilar de impulsionamento do esquema criminoso em apuração”, diz o relatório.

 

De acordo com a PF, os sócios da Fource identificavam processos de interesse econômico da empresa e acionavam os dois contatos: Zampieri e Andreson. “Ao advogado Zampieri competia a função de intermediador, responsável por organizar as demandas, ajustar encaminhamentos e articular contatos externos. Já ao lobista Andreson cabia a atuação em Brasília, com especial foco no Superior Tribunal de Justiça, valendo-se de seu acesso privilegiado a servidores e gabinetes para manejar prazos, minutas e pautas processuais”, apontou a investigação.

 

PF encontrou novos diálogos

O inquérito da Polícia Federal obteve acesso à extração de dados da nuvem do celular do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves. Com base nessas provas, a PF aprofundou as suspeitas envolvendo a compra de decisões judiciais por parte dele.

 

A PF diz que o lobista montou uma “sofisticada rede de intermediários, operadores e servidores estratégicos” para a comercialização de decisões judiciais do STJ e outros tribunais. Para isso, buscava acesso a servidores públicos ou a intermediários com trânsito nos gabinetes. “As apurações revelaram a existência de um mercado paralelo de influência, no qual contratos milionários de advocacia ou de consultoria eram firmados com o propósito de assegurar decisões previamente combinadas, em substituição à efetiva atuação técnico-jurídica nos autos”, diz o relatório.

 

As provas mais robustas obtidas pela investigação envolvem a cooptação, por parte do lobista, do servidores do STJ Márcio Toledo Pinto, que foi demitido no mês passado por causa das suspeitas do seu envolvimento no esquema.

 

A PF detectou que um contador ligado ao lobista abriu uma empresa em nome da esposa do servidor do STJ. Essa empresa recebeu transferências de R$ 4 milhões de Andreson, no período em que Márcio repassava ao lobista minutas de decisões do gabinete da ministra Isabel Gallotti. Na nuvem do celular de Andreson, a PF encontrou diálogos entre os dois. Nas conversas, o lobista enviava a Márcio os comprovantes de depósitos para a empresa da sua esposa. As defesas deles não se manifestaram.

 

O relatório apontou ainda citações nos diálogos aos nomes de outros possíveis servidores do STJ e modificação de minutas por eles. Por causa disso, a PF apontou que a rede de venda de decisões do tribunal pode ser ainda maior e seria necessário prosseguir o aprofundamento dessas informações.

“Nesse contexto, os dados extraídos da nuvem de Andreson, além de confirmarem sua condição de articulador das manipulações judiciais, revelaram novos elementos de relevância probatória. Entre eles, destacam-se os contatos mantidos com servidores, chefes de gabinete e Magistrados, as tratativas financeiras e a concessão de empréstimos de aeronaves para uso particular de autoridades, bem como indícios de influência em indicações de Magistrados para cargos públicos”, afirmou o relatório.

 

Conclui a Polícia Federal: “Registra-se, por fim, que o presente Relatório Parcial não encerra a investigação, mas estabelece uma base indiciária para o avanço das diligências e para a atribuição individualizada de potenciais responsabilidades penais. Sendo assim, encaminham-se os autos a Vossa Excelência para ciência e deliberação quanto às medidas que entender cabíveis”.

 

STJ EM BRASILIA

Taxa pífia de resolução de homicídios expõe fracasso no combate à violência

Por  Editorial / O GLOBO HOJE

 

 

violência se consolida como principal preocupação dos brasileiros, revelam os números da última pesquisa Quaest divulgada nesta semana. Está no topo da lista para 30%, patamar que vem subindo desde julho e supera de longe problemas sociais (18%), economia (16%), corrupção (14%), saúde (11%) e educação (6%). Ao mesmo tempo, a capacidade do poder público para responder a essa angústia tem sido frustrante. Enquanto proliferam notícias de infiltração do crime organizado por toda parte, as autoridades não conseguem fazer o básico: esclarecer os crimes. Apenas um em cada três homicídios é elucidado, revela estudo do Instituto Sou da Paz.

 

De todos os casos ocorridos no ano de 2023 em 17 unidades da Federação, apenas 36% haviam resultado em denúncia contra ao menos um dos autores até o final de 2024, constatou o estudo com base em informações dos Ministérios Públicos e dos Tribunais de Justiça. Houve piora em relação ao ano anterior, quando o percentual foi de 39%, e manutenção do patamar registrado desde o início da série histórica em 2015 — média de 35%.

 

Na comparação internacional, a posição brasileira é sofrível. O Estudo Global sobre Homicídios da ONU apurou uma taxa de resolução de 63% para o mundo e de 43% para as Américas. A média de 36% esconde a enorme disparidade regional no esclarecimento dos homicídios. O pior estado é a Bahia (13%), seguida de Piauí e Rio de Janeiro (ambos com 23%) — o Rio esclareceu apenas 768 dos 3.293 casos de homicídio registrados em 2023. Os melhores são Distrito Federal (96%), Rondônia (92%) e Paraná (72%). São Paulo, com 31%, apareceu com nível de elucidação abaixo de 40% pela primeira vez na série histórica.

 

Naquele ano de 2023, o Atlas da Violência registrou 45.747 homicídios, mais de cinco por hora, ou 21,2 casos por 100 mil habitantes, a menor taxa em 11 anos. A grande maioria das mortes — 71,5% — resultou do uso de armas de fogo. Ainda assim, uma minoria dos assassinos é punida. Na base de dados penitenciários do Ministério da Justiça, apenas 13% dos detentos no Brasil estão presos por homicídio. De longe, são mais comuns prisões por drogas (31%) e crimes contra o patrimônio (40%).

 

Tais números expõem o fracasso de todo o sistema penal e Judiciário na punição e, portanto, no combate aos crimes graves. De acordo com reportagem do GLOBO, processos por homicídio simples demoram em média 10,8 anos para ser concluídos, e mesmo aqueles por homicídio qualificado levam 8,4 anos. A lentidão da Justiça e a legislação penal excessivamente leniente não têm poder de dissuasão sobre os assassinos, pois contribuem para que a maior parte dos crimes passe impune. Havendo mais assassinos soltos do que presos, não é surpresa que a percepção de insegurança da população não pare de crescer.

 

 

Abraço em Gilmar, aviso a Fachin e Moraes e reunião no gabinete: os bastidores da aposentadoria de Barroso do STF

Por Mariana Muniz — Brasília / O GLOBO

 

Os rumores de que uma aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso ocorreria em breve não foram suficientes para preparar os colegas que estavam no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) da surpresa que viria quando, às 17h35m, Barroso começou a ler uma carta usando o passado para dizer que "por 12 anos e pouco mais de três meses, ocupei o cargo de ministro deste Supremo".

 

Tranquilos após terem concluído o julgamento de uma ação da qual Barroso é o relator, os integrantes da mais alta Corte do país foram interpelados pelo discurso do colega que logo embargou a voz e tomou o primeiro gole d’água. Foi assim que os ministros passaram a acompanhar com o olhar atento — geralmente dirigido às telas dos celulares ou do computador — a fala do magistrado.

 

O plenário do Supremo não estava cheio, e as pessoas que estavam na plateia logo começaram a entender que estavam diante de um momento histórico. À medida que Barroso lia a carta de despedida, os assentos da sala foram sendo preenchidos por membros da equipe do ministro, alguns visivelmente emocionados, outros chorando.

O espanto dos demais integrantes do colegiado e dos funcionários do gabinete de Barroso se explica pelo fato de que apenas os ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes, presidente e vice do STF, foram avisados do que ocorreria, ainda na quarta-feira. Antes de participar da sessão plenária, pela manhã, Barroso fez exames médicos, almoçou e, então, partiu para essa que seria a última sessão plenária como ministro.

Fachin teve tempo de preparar um discurso em que agradeceu a amizade e o empenho do colega e amigo na atuação em defesa do STF e da Constituição. Os demais, porém, precisaram improvisar. Concretizado o anúncio de que o ex-presidente estava saindo da Corte, coube ao ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo e protagonista de grandes embates com Barroso, pedir a palavra para discursar. Gilmar estava emocionado e, num gesto fora dos protocolos, levantou de sua cadeira para dar um abraço do futuro ex-colega.

Luiz Fux, que não estava no plenário e participava da sessão de forma remota, por vídeo, surgiu no telão de olhos vermelhos e com voz embargada. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, também falou de improviso, assim como o advogado que acompanhava o caso que acabava de ser julgado — o único presente, e que acabou sendo o autor da fala em nome da advocacia.

Pego de surpresa, como ele mesmo disse mais de uma vez, arrancando sorrisos dos ministros, Ricardo Quintas Carneiro, advogado representante da Central Única dos Trabalhadores, foi quem fez o discurso de homenagem a Barroso, lembrando as palavras de Che Guevara "hay que endurecer, pero sin perder la ternura".

 

A sessão foi encerrada, e os ministros se dirigiram imediatamente para o assento de Barroso, fazendo uma fila para abraçá-lo. Além da surpresa, o clima no plenário era de emoção e de alegria entre os magistrados, em apoio ao colega que também demonstrou, apesar das lágrimas, alívio com o anúncio que tinha sido feito. Os servidores esperaram para ver o ministro passar, e caminharam com ele até o salão branco.

Após a sessão plenária, Barroso convocou os integrantes de seu gabinete para uma reunião. O ministro deve seguir por mais uma semana no Supremo, e até lá deve tentar proferir votos em processos que estão com ele com pedido de vista.

 

O ministro Luís Roberto Barroso anuncia a aposentadoria no STFO ministro Luís Roberto Barroso anuncia a aposentadoria no STF — Foto: Brenno Carvalho

Barroso anuncia aposentadoria antecipada do STF e abre corrida por sucessão: 'Hora de seguir novos rumos'

Por Mariana Muniz — Brasília / FOLHA DE SP

 

O ministro Luís Roberto Barroso anunciou que deixará o Supremo Tribunal Federal (STF) antes do prazo legal, encerrando uma trajetória de mais de doze anos na Corte. A decisão, que vinha sendo amadurecida desde sua saída da presidência do tribunal, foi comunicada e já movimenta os bastidores do governo e do Judiciário. Barroso fez um discurso emocionado e foi aplaudido de pé pelos outros ministros ao final.

 

— É hora de seguir novos rumos. Não tenho apego ao poder e gostaria de viver a vida que me resta sem as responsabilidades do cargo. Os sacrifícios e os ônus da nossa profissão acabam se transferindo aos familiares e às pessoas queridas — afirmou Barroso. — Foi uma decisão longamente amadurecida que nada tem a ver com fatos da conjuntura atual. Há dois anos, comuniquei o presidente da República (Lula) sobre essa possível intenção. Essa é a última sessão plenária de que participo.

 

A aposentadoria de Barroso estava prevista inicialmente para 2033 — quando completaria 75 anos. O ministro afirmou que fará um “retiro espiritual” ainda este mês para definir os detalhes da saída, mas já havia comunicado sua intenção de deixar o cargo ao presidente Edson Fachin e a ministros do STJ.

 

Indicado ao Supremo em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff, Barroso chegou à Corte após uma carreira marcada pela defesa de causas constitucionais e de direitos fundamentais. Ao longo de seus 12 anos como ministro, relatou casos de grande repercussão, como a suspensão de despejos durante a pandemia, a autorização de transporte gratuito nas eleições de 2023, e a limitação do foro privilegiado para autoridades públicas.

Também esteve à frente de ações que discutiram o porte de maconha para uso pessoal e foi o responsável por acompanhar as execuções da ação penal que puniu os envolvidos no mensalão. Como presidente do STF, coordenou o tribunal durante o julgamento que levou à condenação de envolvidos na tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

 

O anúncio deve aumentar ainda mais as articulações para a escolha de seu sucessor. Um dos nomes mais fortes é o do advogado-geral da União, Jorge Messias, considerado de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Messias tem perfil técnico e político alinhado ao governo e, se indicado, poderá permanecer na Corte por até três décadas.

 

Outros nomes também estão no radar do Planalto, como o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas, e o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius Carvalho. A escolha, no entanto, dependerá da estratégia política de Lula, especialmente diante das eleições de 2026.

 

Natural de Vassouras, no Rio de Janeiro, Barroso completou 12 anos no STF em junho deste ano, após assumir a vaga do ministro Ayres Britto. Ao longo desse período, Barroso assumiu a relatoria de julgamentos de destaque como o piso nacional da enfermagem, Fundo do Clima, candidaturas avulsas, sem filiação partidária, proteção aos povos indígenas contra a invasão de suas terras e contra despejos e desocupações de pessoas durante a pandemia de Covid-19, além das execuções penais dos condenados no mensalão.

 

Graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), onde é professor titular de Direito Constitucional, Barroso tem mestrado na Universidade de Yale (EUA), doutorado na Uerj e pós-doutorado na Universidade de Harvard (EUA).

 

— Ao longo desse período enfrentei e superei com discrição dificuldades e perdas pessoais. Nada disso me afastou da missão que havia assumido perante o país e minha consciência de dar o melhor de mim na prestação da Justiça. Sinto que agora é hora de seguir outros rumos. Nem sequer os tenho bem definidos. Mas não tenho qualquer apego ao poder e gostaria de viver um pouco mais dessa vida — afirmou, emocionado, o ministro no discurso de anúncio da aposentadoria nesta quinta.

Ministros elogiam Barroso

Após o discurso de despedida, Barroso recebeu elogios do presidente do STF, Edson Fachin, e de colegas como Gilmar Mendes e Luiz Fux. — Sua contribuição para a democracia brasileira transcende os votos e as decisões. Vossa Excelência ajudou a construir uma cultura constitucional mais sólida, mais consciente, mais comprometida com os direitos fundamentais — disse Fachin em discurso.

 

O ministro Gilmar Mendes, que viveu embates com o colega Barroso, afirmou que não "guarda mágoas" do ministro.

— Não guardo mágoas. Um grande abraço, seja feliz.

— Grande constitucionalista. Tem a marca do grande homem, caracterizado pela integridade profunda — completou Fux, que se emocionou ao falar ao "amigo Beto".

 

Sucessão

Ministros do STF já avaliavam que uma decisão de Barroso sobre uma eventual aposentadoria antecipada ocorreria até o final do ano e descartam, ao menos por ora, "surpresas" entre os nomes de possíveis sucessores.

 

Para um integrante da Corte ouvido pelo GLOBO, não havia dúvidas de que Barroso iria antecipar a sua aposentadoria, mas, sim, sobre qual seria o momento em que esse fato seria anunciado. "Ele sempre quis isso", observa esse magistrado.

Justiça do Ceará condena Enel a pagar R$ 1 milhão por má prestação de serviço em Tamboril

Escrito por Redação / DIARIONORDESTE
 
 
A Justiça do Ceará condenou a Enel — concessionária que fornece energia para o Estado — a pagar R$ 1 milhão em danos morais coletivos e danos materiais individuais por má prestação do serviço público na cidade de Tamboril. A decisão foi tomada na última sexta-feira (3) e acatou a ação civil pública ingressada pelo Ministério Público (MPCE).
 
A ação foi iniciada em novembro do ano passado, após o MP receber diversas denúncias de transtornos causados por constantes oscilações e interrupções de energia, bem como danos de equipamentos de estabelecimentos comerciais, residências e órgãos públicos. Além disso, também foram registradas interrupções em serviços de saúde e comprometimento dos trabalhos eleitorais no último pleito municipal. As reclamações chegaram ao Ministério por meio de abaixo-assinado. 
 
Em nota enviada ao Diário do Nordeste, a Enel afirmou que foi notificada e que irá se manifestar sobre o processo dentro do prazo estabelecido. A companhia também informou que tem feito "uma série de ações de manutenção e investimentos em Tamboril" para reformar o sistema elétrico e proporcionar mais qualidade e capacidade de atendimento.
 

Órgãos públicos reforçaram denúncia

A Secretaria da Saúde de Tamboril foi um dos órgãos públicos que relataram à promotoria danos a equipamentos. Uma das avarias foi registrada em um aparelho de radiologia de um hospital, que teve de ficar inoperante por mais de um mês devido às oscilações e interrupções de energia, causando uma série de prejuízos à população.

O Juízo da Comarca também informou impactos significativos nas atividades jurisdicionais, incluindo cancelamento de sessões de tribunal do júri.

Além disso, devido a uma interrupção no fornecimento de energia durante as eleições municipais do ano passado, houve comprometimento da normalidade dos trabalhos, o que gerou "forte clima de ansiedade e preocupação coletiva em toda a cidade", conforme o MP.

Sobre a condenação

Além da multa, a Justiça condenou a Enel a executar obras e medidas de modernização, ampliação e manutenção do sistema de fornecimento de energia elétrica do município, com compra de equipamentos e disponibilização de pessoal.

A distribuidora também deverá informar previamente os consumidores sobre interrupções programadas e indicar motivos e horários, exceto em casos emergenciais.

Na decisão, o juiz reforçou ainda que a falha da concessionária "ultrapassou os limites da esfera individual" dos consumidores e atingiu o interesse público, o funcionamento de instituições democráticas e a própria confiança social, "circunstâncias que legitimam a procedência integral da ação e a condenação da ré em danos morais coletivos de monta expressiva, cujo valor será destinado ao Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos".

Na nota à reportagem, a empresa afirmou que, entre janeiro e setembro deste ano, aplicou cerca de R$ 3,6 milhões em obras em Tamboril, que contemplaram 46 novas conexões, a instalação de três novos religadores e uma reforma em linhas de baixa tensão. "É importante também destacar que a Enel Distribuição Ceará, comprometida com a melhoria contínua dos seus serviços, vem ampliando seus investimentos em toda a área de concessão", completou o comunicado.

 

 

Barroso admite que penas do 8 de Janeiro ‘ficaram elevadas’ e defende revisões

Por Bruna Rocha / O ESTADÃO DE SP

 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, admitiu nesta terça-feira, 7, que algumas das sentenças aplicadas aos condenados por depredarem as sedes dos Três Poderes no 8 de janeiro de 2023 “ficaram elevadas”. A declaração foi feita durante o 1º Seminário Judiciário e Sociedade, promovido pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

 

Durante sua fala, Barroso também destacou a importância de responsabilizar judicialmente quem cometeu atos antidemocráticos. “Eu concordo que algumas penas, sobretudo as dos executores que não eram mentores, ficaram elevadas. Eu mesmo apliquei penas menores”, afirmou o ministro.

 

Barroso pontuou que, desde o início, tem adotado uma postura mais moderada nas sentenças. “Desde o começo apliquei penas menores. Manifestei-me antes do julgamento do ex-presidente [Jair Bolsonaro], considerando bastante razoável a redução das penas para não acumular os crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado de Direito. Isso permitiria que essas pessoas saíssem em dois anos, dois anos e pouco. Acho que estava de bom tamanho”, completou.

 

A declaração pode ser bem recebida pela direita brasileira, que atualmente tenta aprovar o PL da Anistia, voltado aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro e na tentativa de golpe de Estado. No entanto, segundo o relator da proposta, o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade), o objetivo agora é tratar da dosimetria das penas, em vez de conceder uma anistia total e irrestrita.

 

Se aprovado, o projeto pode beneficiar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão em regime fechado, após julgamento na Primeira Turma do STF. Ele foi considerado culpado por tentar abolir o Estado Democrático de Direito e liderar uma organização criminosa.

 

Ainda durante o evento, Barroso cometeu um ato falho ao comentar sobre seu tempo como magistrado: “Fui não, ainda sou”. A fala alimentou rumores que o ministro vai deixar a corte. Em setembro, o ministro deixou a presidência do STF e passou o cargo para Edson Fachin. No entanto, Barroso pode permanecer no Supremo até 2033, quando atinge a idade de aposentadoria compulsória.

 

STF tem protagonismo excessivo, e nenhum Poder pode ser hegemônico, diz Barroso

Arthur Guimarães de Oliveira / folha de sp

 

O protagonismo do STF (Supremo Tribunal Federal) é excessivo, e isto é algo que a própria corte reconhece, afirmou o ministro Luís Roberto Barroso nesta terça-feira (7) em palestra no Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).

"Reconheço, o próprio Supremo reconhece, que é excessivo, mas, de novo, [ele] decorre de um modelo constitucional e de uma provocação que vem da política", disse Barroso. "Nenhum Poder pode ser hegemônico numa República e, portanto, tudo tem a medida certa."

O ministro ressalvou, por outro lado, que este mesmo arranjo foi o qual permitiu ao país desfrutar do período de estabilidade democrática. "Eu não trataria com desimportância esse papel que o tribunal pôde exercer nesses 37 anos de democracia".

Barroso também abordou as transmissões pela TV Justiça, que, segundo ele, dão uma exposição e visibilidade públicas aos ministros sem precedentes no mundo. Disse, por exemplo, que ninguém reconheceu o presidente do Tribunal Constitucional alemão quando andou com ele pelas ruas do país.

No Brasil, afirmou, "quando o ministro vota, ele vota para os seus colegas, tentando demonstrar os argumentos do seu voto, mas ele também vota para o público que o está assistindo para que possa compreender o que está se passando".

Além do papel do STF, o seminário protagonizado pelo ministro focou a judicialização no Brasil e o balanço da gestão do ministro à frente da corte e do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) de 2023 a 2025. Ele foi sucedido por Edson Fachin há uma semana.

A gestão de Barroso no Supremo foi marcada por julgamentos sobre maconha, sistema prisional e Marco Civil da Internet, mas atingiu o auge com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete por tentativa de golpe de Estado.

"Agora que o julgamento acabou e as provas são públicas, não há nenhuma dúvida de que havia um plano: Punhal Verde Amarelo, que planejava o assassinado do presidente eleito, do vice-presidente e de um ministro do Supremo, documentado, impresso e circulado."

Sobre o 8 de Janeiro, afirmou que, "no Brasil, as pessoas passam da indignação à pena com uma certa rapidez, mas a verdade é que a gente não pode naturalizar que quem perde as eleições pode invadir os prédios públicos".

O ministro reforçou, porém, que algumas penas, sobretudo de executores, não de mentores da trama golpista, ficaram elevadas e afirmou ser razoável não somar as penas dos crimes de golpe de Estado e de abolição violeta do Estado democrático de Direito —algo discutido no Congresso.

No fim da palestra, chegou a dizer que "foi juiz por 12 anos", emendando na sequência "fui, não, sou". A declaração foi dada em um momento de especulações sobre a possibilidade de Barroso adiantar a aposentadoria do Supremo.

À Mônica Bergamo, o ministro narrou que tinha o compromisso de deixar o tribunal após o fim de mandato como presidente: "Sair do Supremo é uma possibilidade, mas não é uma certeza. Eu verdadeiramente ainda não tomei essa decisão", completou.

 

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