Dia do Arquiteto e Urbanista é celebrado em sessão solene na Alece nesta sexta
Por Wanessa Tavares / ALECE
- Foto: Freepik
A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) realiza, nesta sexta-feira (13/12), a partir das 17h, no Plenário 13 de Maio, sessão solene em comemoração ao Dia do Arquiteto e Urbanista, celebrado anualmente em 15 de dezembro - data que faz alusão ao nascimento do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, responsável por pensar e projetar diversos prédios ícones da arquitetura moderna. A solenidade atende a solicitação da deputada Larissa Gaspar (PT), com subscrição do deputado Guilherme Sampaio (PT).
Segundo Larissa Gaspar, a realização da sessão solene visa homenagear os mais de 4.700 mil arquitetos e urbanistas ativos registrados no Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU/CE), ressaltando a importância desses profissionais na formação de cidades e espaços construídos com moradias dignas e espaços saudáveis.
Já Guilherme Sampaio destaca que o evento vai homenagear arquitetos e urbanistas pela capacidade de criarem espaços que sejam funcionais, agradáveis e transmitam uma mensagem, seja contando histórias e transformações ou transmitindo valores culturais e sociais.
SERVIÇO - Sessão solene em comemoração o Dia do Arquiteto e Urbanista
Quando: sexta-feira, 13 de dezembro de 2024.
Horário: 17 horas.
Local: Plenário 13 de Maio.
Endereço: Av. Desembargador Moreira, 2.807, bairro Dionísio Torres, Fortaleza/CE - entrada pela Rua Barbosa de Freitas
Edição: Geimison Maia
Alece realiza sessão solene em comemoração ao Dia do Marinheiro nesta sexta
- Foto: Divulgação Intenet
A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) realiza, nesta sexta-feira (13/12), a partir das 14h, sessão solene em comemoração ao Dia do Marinheiro. O evento acontece no Plenário 13 de Maio por solicitação da deputada Dra.Silvana (PL).
A parlamentar assinalou que a data é dedicada ao militar da Armada Imperial Brasileira, Joaquim Marques Lisboa, marquês de Tamandaré. O militar, que atingiu o posto de almirante, fez carreira por quase 60 anos.
Participou na Guerra da Independência do Brasil além de também integrar as guerras do Prata e do Paraguai. Pelos serviços prestados, foi feito marquês e, mais tarde, foi escolhido como Patrono da Marinha no Brasil.
"No dia 13 de dezembro, os brasileiros prestam essa justa homenagem aos homens do mar e à Marinha, uma das três Forças Armadas que integram o poder militar do País. É uma celebração cívica importante para o Brasil", afirmou.
SERVIÇO
Sessão solene em comemoração ao Dia do Marinheiro
Data: 13 de dezembro de 2024, sexta-feira
Horário: 14 horas
Local: Plenário 13 de Maio
Endereço: Av. Desembargador Moreira, 2.807 - Dionísio Torres - Entrada pela Rua Barbosa de Freitas
Giovanna Munhoz
Edição: Vandecy Dourado
Congresso aprova projeto de energia eólica com ‘contrabando’ que fará conta de luz subir 7,5%
Por Renan Monteiro (Broadcast), Fernanda Trisotto (Broadcast), Giordanna Neves (Broadcast) e Victor Ohana (Broadcast) / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA - O Senado aprovou nesta quinta-feira, 12, o projeto de lei com marco regulatório para a exploração de energia elétrica em alto-mar (offshore). O texto, que vai agora para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contém emenda em benefício ao setor de carvão mineral e de gás natural, pontos que causaram divergências em relação ao impacto na tarifa de energia. Os senadores mantiveram o “jabuti” (texto fora do foco de um projeto de lei e que é incluído como “contrabando”) que favorece termoelétrica, fonte de energia de maior impacto ambiental (como é o caso das térmicas a carvão), diferentemente da eólica.
Como mostrou reportagem do Estadão no dia 5 de dezembro, o relatório do senador Weverton (PDT-MA) sobre o projeto de lei manteve seis “jabutis” que vão encarecer a conta de luz em torno de 7,5%, pelas contas da Frente Nacional dos Consumidores de Energia e da consultoria PSR Energy. O projeto de lei estabelece o “direito de uso de bens da União” para aproveitamento de potencial para geração de energia elétrica a partir de empreendimento em ambiente marinho localizado em águas de domínio da União, no mar territorial, na zona econômica exclusiva e na plataforma continental.
A outorga do direito de uso de bens da União para geração de energia a partir de empreendimento offshore será feita por meio de autorização ou de concessão, com cláusulas obrigatórias, incluindo o fornecimento à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de relatórios, dados e informações sobre as atividades desenvolvidas. O projeto de lei n° 576, de 2021 (Substitutivo da Câmara dos Deputados) teve relatório do senador Weverton Rocha (PDT-MA). O texto foi originalmente apresentado pelo ex-senador Jean Paul Prates. O Estadão/Broadcast Energia mostrou em junho que a demora na aprovação do marco legal das eólicas offshore estava levando empresas do setor a cancelar planos de investimentos no Brasil.
O direito à exploração do serviço de geração de energia elétrica pelo cessionário dependerá de autorização outorgada pela Aneel. O contrato, por prazo determinado, firmado entre a União e o interessado no uso de área offshore, prevê etapas como a análise de viabilidade técnica e econômica, estudo prévio de impacto ambiental, avaliação das externalidades dos empreendimentos, dentre outros pontos.
Pelo texto, os outorgados deverão adotar “medidas necessárias” da área de exploração, visando segurança da navegação, das pessoas e dos equipamentos, bem como a proteção do meio ambiente. É também preciso que os valores recebidos pela União decorrentes da taxa de ocupação da área deverão ser aplicados prioritariamente em ações destinadas à pesquisa, desenvolvimento e inovação associadas a energia e indústria.
O Poder Executivo, por órgão competente, vai coordenar os leilões de energia elétrica para empreendimentos de geração localizados no mar territorial, na plataforma continental, na zona econômica exclusiva ou em outros corpos hídricos sob domínio da União.
A inclusão de ‘jabutis’
Em sua tramitação na Câmara dos Deputados, o PL nº 576, de 2021, aprovado no Senado Federal teve escopo ampliado para temas alheios à matéria central. Os chamados “jabutis”, em parte mantidos no relatório do senador Weverton Rocha (PDT-MA), tratam especialmente da contratação de reserva de capacidade. Em leilão, as usinas são cadastrados para garantir a segurança do sistema - com despachados especialmente em momentos de alta demanda ou baixa geração de energia por condições climáticas. Faz parte do planejamento de médio prazo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
No projeto de lei é citada expressamente a contratação pelo poder concedente de geração termoelétrica movida a gás natural, na modalidade de reserva de capacidade, com período de suprimento de 15 anos. A contratação de reserva de capacidade deverá contemplar também as termoelétricas a carvão mineral nacional.
Além disso, é imposta a contratação até 2025 de reserva de capacidade e energia associada proveniente centrais hidrelétricas de até 50 MW (megawatts) no montante de 3.000 MWna Região Centro-Oeste, 1.500 MW nas Regiões Sul e Sudeste e 400 MW nas Regiões Norte e Nordeste, com período de suprimento de 25 anos.
Outra disposição do texto é que as usinas térmicas que possuem Contrato de Comercialização de Energia no Ambiente Regulado (CCEAR) vigentes em dezembro de 2022 e com previsão de término de CCEAR até dezembro de 2028 terão contratação postergada para até 31 de dezembro de 2050.
Em outra frente é prevista a prorrogação dos contratos de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), centrais a biomassa e centrais eólicas do Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) por 20 anos.
Senado aprova 1ª regulamentação da reforma tributária e deixa armas de fora; texto volta para a Câmara
Por Mariana Carneiro / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA – O Senado aprovou nesta quinta-feira, 12, por 49 votos a 19, o primeiro projeto de lei complementar com as regras para o funcionamento da reforma tributária. Como foram feitas modificações pelos senadores, o texto retornará à Câmara para nova apreciação dos deputados – o que deve ocorrer na próxima semana.
Durante a tramitação no Senado, as bebidas açucaradas saíram da lista de produtos sujeitos ao Imposto Seletivo, o chamado “imposto do pecado” – criado para desestimular o consumo de itens que façam mal à saúde e ao meio ambiente. Também foram poupadas as armas e munições, cuja tributação foi sugerida pelo relator, Eduardo Braga (MDB-AM), mas não recebeu o apoio dos senadores.
‘Imposto do pecado’
O senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso, apresentou uma proposta para tentar retomar o Imposto Seletivo sobre as armas. O recurso teve a maioria dos votos, mas ficou aquém do número necessário para a aprovação do destaque. Foram 33 senadores favoráveis e 32 contrários, além de uma abstenção. Por ser um projeto de lei complementar, que exige quórum qualificado, eram necessários 41 votos a favor.
“Se não incluirmos as armas no Imposto Seletivo, a tributação das armas cai de 89% para 25%. Vamos pagar mais impostos por flores e fraldas do que por armas”, argumentou. Braga defendeu o recurso e alegou que o Seletivo mantém a tributação sobre as armas.
Senadores contrários, porém, defenderam o direito à posse de armas. Flávio Bolsonaro (PL-RJ) alegou que o PT tentou colocar um “imposto abusivo” sobre os itens.
“Ninguém quer transferir a responsabilidade da segurança pública. É um direito, direito exerce quem quer”, afirmou. “É difícil hoje ter uma arma em casa, são um bem de valor altíssimo. O PT quer botar imposto abusivo para deixar ainda mais difícil, mais inacessível ter uma arma de fogo. A polícia não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo”, disse.
Novas concessões e impacto no IVA
Braga fez concessões a atividades que, segundo cálculos que apresentou, tiveram impacto de alta de 0,13 ponto porcentual na alíquota-padrão do novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que vai substituir cinco tributos atuais. Durante a votação, ao longo dessa semana, outras concessões foram feitas.
A mais relevante delas foi a inclusão do saneamento básico nos serviços de saúde, que terão desconto de 60% sobre alíquota padrão. Braga havia dito na terça-feira que essa medida teria um impacto de 0,5 no novo IVA. Nesta quarta-feira, porém, após a aprovação, afirmou que havia conversado com o secretário especial da reforma tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, e que o impacto estava mais próximo de 0,38 a 0,40 ponto na alíquota.
Com os acréscimos, portanto, a alíquota padrão do IVA pode ser de ao menos 28,5%.
Appy acompanhou a votação no plenário do Senado com sua equipe. Os cálculos oficiais da pasta sobre o impacto das mudanças feitas pelo Senado ainda não foram divulgados.
“Com certeza a alíquota vai ser mais alta. Vocês conhecem a posição do Ministério da Fazenda, que preferiria que tivesse menos exceções do que foi aprovado, em cada etapa; mas, volto a falar: a espinha dorsal da reforma está mantida”, disse.
Ele citou a mudança no setor de saneamento básico. “O próprio senador Jaques Wagner ontem na CCJ falou que apenas a equiparação de saneamento à saúde tem um efeito de elevar a alíquota em 0,38 ponto porcentual”, disse.
Houve outras concessões de menor monta no texto e que ainda não foram computadas. Academias de ginástica ganharam desconto na tributação de 30% em relação à alíquota de referência. Os biscoitos de consumo popular entraram na tributação reduzida a 60%.
O Senado também reduziu a tributação que incide sobre agrotóxicos e seus insumos – como a molécula que geralmente é importada – com um desconto de 60% em relação à alíquota padrão. O texto definiu que o Comitê Gestor do IBS (IVA de Estados e municípios) e o governo federal revisarão a cada 120 dias a inclusão destes insumos na lista de produtos beneficiados.
‘Trava do IVA’
Apesar das concessões, Braga manteve no texto uma inovação feita pela Câmara que prevê um teto de 26,5% na alíquota padrão, determinando que, em caso de estouro, o governo proponha um projeto para reduzir benefícios tributários. A trava é considerada ineficaz por tributaristas, uma vez que a simples propositura do governo pode ser ignorada pelo Congresso, dado que iniciativas similares têm enfrentado resistência no Legislativo.
Durante a tramitação, a oposição tentou impor um limite ainda mais baixo à alíquota padrão, de 25%, o que foi rejeitado.
“Se dependesse da nossa vontade, a alíquota seria de 15%, e não de 25%. Acontece que estamos falando de um imposto que acumula cinco impostos. Com a melhoria na tributação, redução de sonegação e eficiência, teremos uma alíquota padrão menor”, disse Braga. “Por isso, é importante começarmos em 2026 com obrigações acessórias para dimensionar (a tributação); em 2027 testar e, a partir daí, ter a possibilidade de fazer revisões.”
Zona Franca
Braga, que já foi governador do Estado do Amazonas, ampliou os benefícios concedidos às empresas instaladas na Zona Franca de Manaus em relação ao projeto que havia sido aprovado na Câmara e extrapola os incentivos oferecidos hoje às empresas da região.
Embora o tema tenha sido alvo de críticas de senadores, como o paranaense Sergio Moro (União-PR), não houve alterações em relação ao que apresentou Braga. Ao contrário, diante de queixas de senadores dos demais Estados da Região Norte, Braga estendeu vantagens às áreas de livre comércio instaladas nos vizinhos AC, AP, RO e RR e esticou a validade delas de 2050 para 2073.
O relator também incluiu um dispositivo que concede à única refinaria instalada na Zona Franca, que pertence à distribuidora Atem, vantagens tributárias. Procurada, a Atem não respondeu à reportagem. “Isso é uma questão de sobrevivência, não foi negociada com o governo. É simples: ou a refinaria tem os benefícios da Zona Franca de Manaus ou a Petrobras recompra a refinaria”, disse Braga, na noite de quinta-feira. “O que não pode é a única refinaria da Amazônia ser fechada porque o Brasil deu as costas para a Amazônia, que produz óleo e gás em terra firme a menos da metade do pré-sal.”
Imóveis
O relator no Senado atribuiu critérios objetivos para a tributação de pessoas físicas que obtenham renda com a compra, venda, cessão e arrendamento de imóveis. O texto da Câmara deixava a questão vaga e só pegava os profissionais que já recolheriam o IBS (IVA de Estados e municípios) e a CBS (IVA federal), como profissionais liberais. Agora, toda pessoa física que tiver mais de três imóveis distintos e obter um rendimento superior a R$ 240 mil por ano com eles será tributado na locação ou cessão. No caso da venda, caso a pessoa física venda mais de três imóveis em um ano ou mais de um imóvel adquirido nos últimos cinco anos, também estará sujeita à tributação.
Já no caso da alíquota que incidirá sobre essas operações, Braga aplicou redutores maiores do que os aprovados na Câmara. Para a venda de imóveis, a alíquota incidente será de 50% da alíquota padrão do IVA – que recai sobre todos os demais produtos e serviços. O texto que saiu da Câmara previa um redutor de 40%. Já no caso do aluguel, arrendamento e cessão, o redutor foi elevado para 70% – o anterior era de uma redução de 60% da alíquota padrão.
Cashback
O texto aprovado na CCJ ampliou o cashback (mecanismo de devolução de tributos a famílias de baixa renda) para as contas de telefonia e internet. O texto da Câmara já previa a devolução de 100% da CBS (IVA federal) e de pelo menos 20% do IBS (IVA de Estados e municípios) para gás, água e esgoto e energia elétrica. Nos demais produtos e serviços, a devolução será de 20% da CBS e do IBS.
Clubes de futebol O novo texto “ajusta a tributação” das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) e prevê que a alíquota para os tributos unificados passa a ser de 5%.
Na versão anterior, o valor do pagamento mensal e unificado dos tributos tinha as seguintes alíquotas: 4% para os tributos federais unificados (IRPJ, CSLL e contribuições previstas no Artigo 22 da Lei 8.212/1991); 1,5% para a CBS; e 3% para o IBS – 8,5% no total. Com as mudanças, as alíquotas passam a ser 3%, 1% e 1%, respectivamente – 5% no total.
Além disso, ficam excluídas da tributação, nos cinco primeiros anos-calendário da constituição da SAF, as receitas da cessão de direitos desportivos de atletas e da transferência do atleta para outra entidade esportiva ou seu retorno à atividade em outra entidade desportiva.
Cesta básica e alimentos
O relator retirou o óleo de soja da cesta básica com imposto zero, mas em acordo com o setor produtivo –que recebeu como contrapartida a previsão de que a indústria de esmagamento terá acesso ao benefício. O produto foi para a lista dos alimentos com alíquota reduzida, equivalente a 60% da alíquota-padrão. O relator justificou a medida como uma forma de incentivar o aumento do valor agregado do óleo de soja.
Braga também decidiu incluir na reduzida as bolachas de consumo popular, como as do tipo maria, além do óleo de milho, “para conceder tratamento igualitário com os demais óleos vegetais”. Já a erva-mate foi incluída na cesta básica com imposto zero.
Motoristas de aplicativo
Braga também acatou uma emenda que muda a receita bruta para motoristas de aplicativos. Conforme o Estadão/Broadcast havia mostrado, o relator já estudava a medida, sob o ponto de vista da “suavização” do conceito de nanoempreendedor. No relatório, Braga passou a considerar como receita bruta dos motoristas 25% do valor bruto mensal recebido.
Transporte público
Nas rotas interestaduais e intermunicipais de transporte rodoviário, ferroviário ou hidroviário haverá a incidência de uma alíquota equivalente a 40% da alíquota padrão. No transporte aéreo de carga, Braga também decidiu aplicar o redutor alegando que há regiões em seu Estado, no Amazonas, onde produtos perecíveis e alimentos só chegam de avião.
Bares, restaurantes, hotéis e parques
A alíquota de bares e restaurantes, hotéis, parques de diversão e parques temáticos foi reduzida a 40% da padrão.
Comitê Gestor
A pedido do Ministério da Fazenda, Braga incorporou ao texto um ponto do segundo projeto de regulamentação da reforma tributária (PLP 108/2024), que ainda não avançou na tramitação do Senado, sobre parte das regras relativas à criação do Comitê Gestor – órgão que será responsável pelo rateio do IBS entre Estados e municípios. Uma das medidas é que o Comitê Gestor ficará instituído até 31 de dezembro de 2025, com competências exclusivamente normativas para editar o regulamento único do IBS. Segundo ele, com a nova medida, o PLP 108 precisa estar aprovado no Congresso Nacional até o dia final do prazo do comitê temporário./Colaborou Alvaro Gribel
O Congresso tem etiqueta de preço
Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP
A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino de impor critérios mínimos para liberar o pagamento de emendas parlamentares neste ano, referendada por seus pares na Corte, expôs a natureza mercantilista das relações entre Congresso e Executivo. O dinheiro dessas emendas sempre serviu para azeitar a dinâmica de votações do Legislativo, mas, nesta semana, deputados e senadores perderam o pudor de vez. Em pleno mês de dezembro, período em que costumam analisar, a toque de caixa, todos os assuntos que ficaram pendentes, os parlamentares praticamente cruzaram os braços à espera da verba das emendas.
Na segunda-feira, 9, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) não pôde nem ler o parecer da reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Motivo: falta de quórum. A reunião não pôde sequer ser aberta porque havia apenas seis senadores presentes. E entre os célebres ausentes estava Davi Alcolumbre (União-AP), presidente do colegiado e futuro presidente do Senado.
Na Câmara, o movimento começou antes. Na semana passada, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que o Executivo não tinha votos suficientes nem para aprovar a urgência dos projetos do pacote fiscal. Não exagerou. Foi por muito pouco que o governo conseguiu obter apoio suficiente para aprovar os requerimentos de urgência. Por falta de votos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que integra o pacote saiu da pauta da CCJ da Câmara e será apensada a uma outra que já está no plenário, numa tentativa de apressar sua tramitação.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez um apelo ao Legislativo para que fizesse um esforço para aprovar o pacote nos próximos dias. “Nós temos uma chance de terminar o ano com coisas importantes”, afirmou. Seria muito bom se a procrastinação legislativa se devesse à necessidade de deputados e senadores de terem mais prazo para analisar as propostas, apresentadas há pouco tempo. A reforma tributária, por exemplo, promoverá mudanças profundas no sistema atual, enquanto o avanço dos projetos do pacote fiscal, ao menos para o ministro, pode ajudar a ancorar as expectativas.
O fato, porém, é que a resistência não se deve a nada disso. Não há qualquer preocupação sobre o mérito das propostas ou sobre os riscos de uma apreciação acelerada. Os parlamentares veem apenas uma excelente oportunidade – a última do ano – para assegurar verbas e enviá-las às suas bases eleitorais. Pela mesma razão, nem a Lei de Diretrizes Orçamentárias nem o Orçamento deste ano foram votados.
Depois da decisão de Dino, o clima “azedou” de vez, disse o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA). Afinal, como bem definiu o presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), Julio Arcoverde (PP-PI), os parlamentares veem as emendas como uma espécie de “direito adquirido”.
Assim, depois de passar o ano fazendo jogo duplo para fingir que não estava alinhado ao STF na questão das emendas, o governo não parece disposto a contrariar a voracidade dos parlamentares.
Primeiro, entrou com um recurso, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), para tentar garantir o pagamento com base nas frouxas regras estabelecidas pela lei aprovada pelo Congresso. Embora Dino não tenha acatado o pedido, o governo encontrou uma alternativa e editou uma portaria para executar R$ 6,4 bilhões em emendas parlamentares. O leitor não deve se surpreender com o súbito comprometimento que surgirá entre os parlamentares em decorrência da portaria publicada.
Os próximos dias deverão ser movimentados para limpar a pauta legislativa, e as sessões poderão avançar pela madrugada caso seja necessário. Já houve mais discrição por parte dos parlamentares nas negociações do toma lá dá cá. Com a proximidade do fim do mandato de Lira e Pacheco à frente da Câmara e do Senado, é hora de garantir a vitória de seus sucessores, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Alcolumbre, candidatos aclamados pela direita e pela esquerda e, obviamente, apoiados pelo Palácio do Planalto. Assim caminha a agenda econômica no Congresso.
Câmara aprova projeto de renegociação das dívidas dos Estados; texto volta ao Senado
Por Giordanna Neves (Broadcast) / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA – A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira, 10, por 413 votos a favor e 4 contrários, o projeto que cria um novo regime de renegociação das dívidas dos Estados com o governo federal. Como houve mudanças no texto, a proposta, que é de iniciativa do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), voltará à análise dos senadores. O projeto permite que Estados endividados que aderirem ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) terão uma redução do indexador das dívidas com a União, com prazo de 30 anos para pagamento.
Hoje, os valores são corrigidos pela inflação mais uma taxa de 4%. A medida beneficia principalmente São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que concentram juntos a maior parte do estoque da dívida dos entes federativos com a União. O relator do projeto na Câmara, deputado Luizinho (PP-RJ), fez algumas alterações no texto aprovado pelo Senado. Entre as principais mudanças está a ampliação no prazo para adesão ao programa, para que os Estados tenham mais tempo de se ajustar às regras. Enquanto o texto original previa 120 dias após a publicação da lei, o substitutivo amplia esse prazo até 31 de dezembro de 2025.
O texto também determina um cronograma gradual de pagamento das dívidas para Estados que estão no Regime de Recuperação Fiscal (RRF) – como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul – que optarem por ingressar no novo programa. As parcelas começarão em 20% do valor das prestações devidas no primeiro ano, até atingir 100% no quinto ano. As dívidas poderão ser pagas com juros reais (descontada a inflação) de 0% a 2% ao ano com a transferência de ativos do Estado para a União, e a troca de parte dos débitos por investimentos em educação – quanto mais o Estado consegue repassar, menor o juro, até cair a zero.
O relatório aprovado pela Câmara estabelece novas alternativas para o pagamento das dívidas, como transferência de receitas de vendas de ativos, recebíveis de compensações financeiras geradas pela exploração de recursos naturais e cessão de recebíveis do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR). O parecer também flexibiliza as exigências ao permitir que Estados que demonstrarem impossibilidade técnica e operacional para aplicar 60% dos recursos em educação profissional técnica de nível médio, poderão apresentar um plano alternativo, investindo ao menos 30% em educação.
Outra alteração proposta pelo relator permite que Estados em calamidade fiquem desobrigados de fazer depósitos no Fundo de Equalização Fiscal. Os Estados que ingressarem no Propag precisarão fazer aportes anuais neste fundo, com valores que variam conforme o tipo de adesão ao programa. O parecer aprovado também incluiu um dispositivo que permite que o Executivo realize pagamento de despesas se as leis orçamentárias não forem aprovadas, como mostrou o Estadão/Broadcast. O trecho foi incluído pelo governo Lula em meio ao risco de não aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) este ano.
Lira diz que BPC, abono e salário mínimo são ‘polêmicos’ e que governo não tem votos para pacote
Por Amanda Pupo (Broadcast) e Giordanna Neves (Broadcast) / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA – O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que o pacote de corte de gastos enviado pelo governo ao Congresso é “polêmico” e enfrenta resistências por parte dos parlamentares. Ele disse que, hoje, as propostas não têm votos para serem aprovadas, mas reiterou que a Casa está trabalhando e há interesse dos deputados em apreciar as medidas.
Após a nomeação dos relatores, prevista para hoje, os textos poderão ser debatidos e, se possível, serem apreciados já nesta semana, disse Lira.
“O acerto é que não tem votos. O assunto é polêmico, o BPC é polêmico, o abono é polêmico, o salário mínimo é polêmico. É um assunto que ferve, além de toda a insatisfação pelo não cumprimento de uma lei que foi aprovada pelo Congresso Nacional, sancionada pelo Presidente da República”, disse ele, em referência ao projeto de lei que trata da execução das emendas parlamentares.
Lira afirmou que uma parte da Câmara avalia que o pacote está abaixo do impacto esperado, enquanto outra tem dificuldade em apreciar temas que tratam de direitos sociais. Apesar disso, ele garantiu que o interesse da Casa é de votar as propostas. “Os temas não são fáceis. O nosso interesse é votar. Nós vamos dar sequência a isso. Nós deixamos isso claro. Mais uma vez, eu repito, com apreciação quase que imediata das urgências (dos projetos de lei) e com o trâmite especialíssimo que será dado à PEC. Se não quiséssemos votar, se não quiséssemos discutir, bastava deixar a PEC seguir o trâmite normal dela. Não seria votado esse ano”, comentou.
O alagoano disse que não pode precisar um prazo de votação das matérias, mas não descartou que os textos possam ser apreciados já nesta semana em plenário. “O pacote pode ser votado, inclusive, essa semana, porque depois que você apresenta o relator, ele já começa a debater, nós estamos na terça-feira, nós temos sessão até sexta. Nós temos tempo para construir consensos, acordos”, afirmou.
Lira afirmou ainda que pode ser que o Congresso decida por uma outra vertente para conter o crescimento dos gastos. O alagoano reiterou que o pacote é grande e o prazo é “exíguo”, o que explica a complexidade da tramitação. Segundo ele, não basta “chegar um projeto e botar para votar”. “São temas, mais uma vez, de muita discussão, de contas; pode ser que o Congresso decida por outra vertente, escolha um outro caminho para diminuir mais o crescimento da despesa, ou cortar a despesa. Então, quando o processo for ‘startado’, a gente pode ter uma ideia mais clara. O texto que vem do governo tem recebido muitas críticas, ou de ser abaixo da expectativa do mercado, ou de acima da expectativa de alguns interesses sociais”, completou.
O presidente da Câmara reforçou ainda que o problema na tramitação do pacote fiscal não envolve “emenda, portaria ou parecer”, mas mérito de texto. O contencioso em torno da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação às emendas apenas agrava o clima. “O governo, por certo, sabe das dificuldades que tem se comparar a decisão do Dino com a lei aprovada no Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República”, avaliou.
Reforma tributária
Lira disse que a Câmara ainda não tem um “raio X” completo do que foi proposto para a regulamentação da reforma tributária no Senado. Ele também afirmou que não poderia definir o dia que o texto poderá ser apreciado na Casa, já que os senadores ainda precisam se debruçar sobre a proposta. O parecer do senador Eduardo Braga (MDB-AM) foi apresentado ontem e pode ser votado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado nesta quarta-feira, 11.
Segundo Lira, as equipes da Câmara estão analisando o texto apresentado por Braga e ponderou que ainda não é possível saber como a proposta sairá do Senado, uma vez que ainda precisa passar pela CCJ e pelo plenário da Casa revisora.
“Todas as alterações que vierem para melhorar, contribuir, esclarecer, tornar mais ágil, menos burocrático, menos questionado jurídico também, nós iremos acatar. Agora, a gente tem que ver primeiro o que é que o Senado faz, se aprova, como aprova, quando chega para que a gente tenha um calendário”, disse Lira, observando que a intenção inicial seria votar o projeto nesta semana para que a próxima fosse dedicada a matérias orçamentárias e a uma das propostas do pacote fiscal.
Contudo, se o texto da tributária chegar à Câmara na quinta-feira à noite, não haverá tempo para votar ainda na sexta-feira, apontou. “Aí será na próxima semana, sem problema nenhum”, afirmou.
Para Lira, Braga fez várias alterações de técnica legislativa, mas também muitas modificações de mérito (conteúdo). “E depois que a gente tiver a compilação de todas essas mudanças é que nós vamos poder exprimir se o texto da Câmara permanece, se o texto da Câmara muda, conversar com o senador Pacheco, com Braga, para que tenha também um sentimento do Senado com relação a essas possibilidades. Agora, nós não temos ainda o raio x completo, até porque esse projeto ainda passará por votação na CCJ e votação no plenário”, disse Lira.
Líder diz que 'clima segue azedo' e pacote fiscal não deve ser votado nesta semana: 'Hoje, não passa'
Por Gabriel Sabóia— Brasília / O GLOBO
O líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), disse que o clima no Congresso "segue azedo" e colou em dúvida a votação do pacote fiscal nesta semana na Casa, por conta da instafisfação com emendas parlamentares após decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino. — O governo é que sabe se vota (pacote de corte de gastos). Se eu fosse líder do governo não votava. Se votar hoje, não passa. Ninguém acredita que não há um jogo combinado (entre Supremo e Governo), mas eu não acho nada sobre, to falando o que a turma aqui acha. Pacote de corte não entra nessa semana. Talvez, no máximo a tributária, caso chegue, pode ser votado. O clima segue azedo — disse ele.
Logo antes, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou que o governo espera aprovar os projetos de lei que compõem o pacote de corte de gastos ainda nesta semana na Câmara dos Deputados.
Parlamentares têm dito que não irão votar os projetos do pacote econômico enquanto não houver o pagamento das emendas parlamentares bloqueadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino. Durigan afirmou que o governo se esforça para cumprir o acordo com o Congresso e liberar os recursos, apesar da decisão de Dino.
— Queremos fazer com que as coisas avancem ainda neste ano, esperamos que o pacote seja votado nesta semana (e não na semana que vem). Em relação às emendas, há uma incerteza gerada pela decisão do Supremo, mas a Advocacia Geral da União está fazendo uma interpretação com força executória dessa decisão e a Secretaria do Tesouro vai executar com base na interpretação da AGU — disse Durigan, número 2 de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda, antes de reunião com deputados governistas.
Dino negou o pedido de reconsideração da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre trechos da decisão que liberou a retomada do pagamento das emendas parlamentares. O ministro negou integralmente o pedido feito pela União, visto como uma tentativa de arrefecer os ânimos entre o Congresso e o Executivo. No despacho em que rejeita o pedido da AGU, Dino diz que "não há o que reconsiderar", uma vez que as determinações do ministro, que foram referendadas pelo plenário do STF, "derivam diretamente da Constituição", da Lei de Responsabilidade Fiscal e da lei que disciplina as emendas parlamentares.
Mais cedo, no Senado, a leitura do parecer da reforma tributária foi cancelada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), sob a presidência do senador de oposição Marcos Rogério (PL-RO). Rogério nega que tenha sido uma retaliação e justifica o encerramento por falta de quórum. Apesar disso, três senadores da oposição e da base do governo viram um ato de protesto sobre a situação das emendas.
Corte de gastos: Deputados resistem a mexer no BPC e pacote fiscal corre risco de desidratação
Por Daniel Weterman e Mariana Carneiro / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA – Em meio a cobranças no mercado financeiro por um corte de gastos estrutural, que garanta a sustentabilidade do arcabouço fiscal, deputados dizem que um eventual endurecimento das propostas apresentadas pelo governo Lula não virá do Congresso sem que o Poder Executivo proponha um ajuste maior. Em um movimento contrário, parlamentares resistem a mexer no Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, e o pacote corre risco de desidratação.
O governo enviou três propostas do pacote fiscal para a Câmara. Os deputados aprovaram ontem a urgência de dois projetos relacionados aos novos gatilhos do arcabouço, ao ganho do salário mínimo e à revisão em programas sociais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Um deles foi aprovado com apenas três votos além do necessário. Há ainda uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que também mexe no BPC, nos supersalários do funcionalismo público e no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
Os parlamentares, contudo, ainda não se comprometeram em aprovar o conteúdo dos projetos. Líderes da Câmara e articuladores do Palácio do Planalto afirmam que o pacote será aprovado ainda neste ano; a dúvida, no entanto, é sobre o tamanho do ajuste. Além disso, há ainda alguns obstáculos, como o impasse envolvendo o pagamento de emendas parlamentares após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Economistas e integrantes do mercado financeiro avaliam que o pacote é insuficiente para garantir o equilíbrio das contas públicas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, manifestou confiança nas propostas, mas admitiu a necessidade de novas medidas no futuro e não descartou voltar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No Congresso, integrantes da esquerda e da direita concordam o diagnóstico de que é impossível manter o arcabouço fiscal intacto e as regras atuais dos benefícios da Previdência Social, vinculados ao salário mínimo, e dos pisos de saúde e educação, que crescem conforme a arrecadação do governo. O remédio proposto é que é diferente. Uma ala pressiona por cortes mais duros e outra por mudanças no arcabouço.
Uma das principais resistências na Câmara é em relação às mudanças no BPC. O benefício é pago para idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, no valor de um salário mínimo. O pacote aumenta os critérios para calcular a renda das famílias e proíbe a retirada de rendas não previstas em lei. Na prática, isso pode fazer com que pessoas não tenham mais direito ao benefício por ultrapassar a renda de um quarto do salário mínimo.
Conforme o Estadão mostrou, quase um terço dos benefícios do BPC para pessoas com deficiência foi concedido por decisões judiciais, que triplicaram em três anos. O ministro Fernando Haddad afirmou que o governo precisa combater o que ele chamou de “indústria de liminares”. Uma das questões é que a Justiça dá a uma pessoa o direito de receber o pagamento quando o governo não possui o registro da deficiência ou não concorda com os critérios para aferir essa deficiência.
‘Munição para a direita’
A resistência a mexer no BPC começa no partido de Lula. “Tem coisa para ser modificada. A esquerda não topa mexer no BPC. É um contrassenso mexer com os mais carentes e isso está dando inclusive munição para a direita nos criticar e criticar o governo”, disse o deputado Zé Neto (PT-BA).
“Eu espero que a equipe econômica do governo do presidente Lula possa rever essa posição, porque nós não podemos cortar ou dificultar o acesso das pessoas com deficiência e dos idosos ao benefício de prestação continuada”, afirmou Valmir Assunção (PT-BA).
Em entrevista ao Estadão, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), autor de uma PEC que propõe medidas mais drásticas para o governo para controlar as contas, como desindexação de benefícios ao salário mínimo e mudanças nos pisos de saúde e educação, afirmou que não há disposição atualmente no governo e no Congresso para endurecer o pacote. “(A proposta do) BPC do jeito que está não está gerando muita economia e está gerando muita resistência”, afirmou Pedro Paulo, para quem as propostas são tímidas diante do desajuste nas contas do governo.
“Tem o discurso ‘o governo não botou a cara, não teve coragem e quer que o Parlamento tenha esse desgaste, vamos deixar esse desgaste para o governo’. É uma racionalidade óbvia que funciona com alguns líderes. Falta uma coordenação das lideranças em favor da responsabilidade fiscal”, disse ele. A crítica também vem de políticos de centro e da direita, principalmente do Nordeste, que querem distância do projeto que altera as regras do BPC, e de parlamentares ligados à saúde e aos direitos da pessoa com deficiência. “Esta proposta não é apenas desumana, mas também um retrato da completa insensibilidade e incompetência com que a saúde pública está sendo tratada”, disse o deputado Zacharias Calil (União-GO).
Na quarta-feira, 4, ao orientar a favor da urgência dos projetos, o líder do bloco da Maioria na Câmara, que reúne a base do governo e o Centrão, André Figueiredo (PDT-CE), deixou clara a insatisfação. “É evidente que nós queremos rediscutir o posicionamento relativo ao BPC e tantos outros pontos que precisam ser discutidos”, disse. A reação também já ocorre no Senado, que analisará as propostas após eventual provação na Câmara. “O que está sendo proposto é desumano e ameaça milhões de brasileiros que dependem desse benefício para sobreviver”, afirmou a senadora Mara Gabrilli (PSD-SP). “Ajustar as contas públicas é necessário, mas é inadmissível que isso seja feito atacando aqueles que já estão à margem da sociedade.”
O governo espera economizar R$ 2 bilhões por ano com a revisão no BPC, gerando uma economia de R$ 12 bilhões ao longo de seis anos. No total, a economia projetada com o pacote é de R$ 71,9 bilhões entre 2025 e 2026 e de R$ 327 bilhões entre 2025 e 2030. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi lembrado recentemente por deputados que a disparada do dólar arrefeceu no mercado financeiro após falas dele e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), se comprometendo com o pacote de gastos e adiando a discussão sobre o Imposto de Renda. Mas, de acordo com interlocutores, Lira não se comprometeu a liderar sozinho um endurecimento do pacote sem iniciativa do governo. A oposição, que já pretende votar contra o pacote, também se mobiliza para desidratar as propostas retirando as mudanças no BPC.
“É claro que nós vamos discutir, na hora certa, o mérito das matérias”, disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), durante a votação da urgência dos projetos, ao fazer um apelo pela tramitação e prometer enfrentar o conteúdo das medidas mais tarde. “Muitos dos senhores nos colocam, com razão, restrições com relação ao PL, àquilo que está contido no BPC, às mudanças que o governo está sugerindo, muitos levantam ponderações sobre o Bolsa Família. Nós estamos inteiramente abertos para a discussão do mérito, para a discussão daquilo que é fundamental para o País, sem vetar qualquer proposta ou qualquer discussão que seja necessária”, afirmou.
Os nomes dos deputados que vão assumir a relatoria dos projetos na Câmara ainda não foram oficialmente anunciados, mas estão cotados o líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), para o projeto de lei que cria restrições de acesso ao BPC, e Cláudio Cajado (PP-BA), para o projeto de lei complementar que limita o reajuste do salário mínimo ao teto do arcabouço fiscal. Já a PEC que trata de temas como a imposição do limite a supersalários no funcionalismo, a relatoria deve ser entregue a Rubens Pereira Júnior (PT-MA).
A ‘aula’ de Lira e Pacheco
Por Notas & Informações / o estadão de sp
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passou os últimos dias tentando convencer os investidores de que o pacote fiscal que anunciou na semana passada não é de todo ruim. A tarefa, por si só, já seria desafiadora depois do trágico pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV da noite de quarta-feira, mas Haddad parecia contar com a boa vontade do mercado para emplacar a ideia de que houve, na verdade, mera falha de comunicação.
Essa estratégia repisada é retomada de tempos em tempos e, eventualmente, funciona, a depender do ânimo e da paciência dos interlocutores. Foi com esse espírito que Haddad foi recebido em um evento organizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). A cúpula da entidade saiu do almoço convencida de que o ministro é o único capaz de fazer um ajuste no governo Lula da Silva, e de que esse ajuste, mesmo que insuficiente para reequilibrar as contas públicas, seria o ajuste possível neste momento.
Naquele dia, no entanto, o que realmente trouxe algum alívio ao mercado financeiro na sexta-feira não foi o discurso do ministro, mas o alinhamento demonstrado pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ambos sinalizaram não ter pressa para analisar a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais.
Pacheco disse que é preciso afastar o medo da impopularidade quando se trata de medidas fiscais. “É importante que o Congresso apoie as medidas de controle, governança, conformidade e corte de gastos, ainda que não sejam muito simpáticas”, afirmou, por meio de nota. “Inclusive outras podem ser pensadas, pois esse pacote deve ser visto como o início de uma jornada de responsabilidade fiscal.”
Lira, por meio de suas redes sociais, disse que toda medida de corte de gastos contará com o esforço, a celeridade e a boa vontade da Casa. “Qualquer outra iniciativa governamental que implique renúncia de receitas será enfrentada apenas no ano que vem, e após análise cuidadosa e, sobretudo, realista de suas fontes de financiamento e efetivo impacto nas contas públicas”, afirmou.
Em conjunto, as declarações de Pacheco e Lira fizeram a cotação do dólar à vista recuar a R$ 5,9594, depois de alcançar a marca de R$ 6,10 mais cedo. Não foi suficiente, por óbvio, para reduzir a volatilidade de maneira definitiva, mas só isso deveria ser suficiente para Haddad fazer uma reflexão sobre seu papel no governo.
Em primeiro lugar, porque nem Lira nem Pacheco podem ser considerados exemplos de austeridade. E em segundo lugar, porque, em tempos normais, seria o ministro quem teria de comprar briga com um benevolente Legislativo para defender o pacote fiscal. Afinal, ser o chato da história é, essencialmente, o trabalho do ministro da Fazenda. Quando ele recebe elogios, e, sobretudo, quando esses elogios vêm da ala política do governo, é bem provável que não esteja cumprindo bem o seu papel.
Haddad disse que o pacote que apresentou não representa o “gran finale” ou a “bala de prata” do esforço fiscal do governo e destacou que outras medidas podem ser anunciadas em três meses, caso seja necessário. Já seria difícil de acreditar, tendo em vista o longo processo de negociação do pacote nas últimas semanas e a pretensão de Lula da Silva de candidatar-se à reeleição em 2026. Mas, para piorar, na noite de sexta-feira, a equipe econômica surpreendeu todos com um relatório extemporâneo de receitas e despesas.
Uma semana após a divulgação do relatório bimestral, o governo reduziu a necessidade de bloquear gastos discricionários do Orçamento deste ano de R$ 6 bilhões para R$ 4,3 bilhões. A despeito do avanço das despesas obrigatórias, a mágica se tornou possível após o governo zerar os recursos a serem repassados a Estados e municípios por meio da Lei Aldir Blanc de incentivo à cultura.
O valor, por óbvio, é pequeno ante o volume das despesas. Mas, no contexto geral, o relatório é mais uma evidência a reforçar a impressão de que o problema não é a comunicação, mas a falta de convicção do governo sobre a importância do ajuste fiscal. É essa a razão de tanta instabilidade dos mercados.