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Maior grupo partidário do país, federação União-PP é lançada com gestos à oposição e desafia o governo Lula

Por  — Brasília / O GLOBO

 

 

O anúncio da federação União-PP foi marcado na terça-feira pelo gesto de aproximação da nova agremiação à direita e ao ex-presidente Jair Bolsonaro, no momento em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta dificuldades para organizar a base e negociar sua agenda no Legislativo. Maior força do Congresso, com 109 deputados e 14 senadores, bem como em número de prefeitos (1.330) e governadores (6), o grupo divulgou um manifesto político no qual defende “um choque de prosperidade” e menos intervenção do Estado na economia — governos do PT são, constantemente, alvos de críticas pelo tamanho da máquina pública e o papel conferido ao Estado como indutor do desenvolvimento.

 

Alguns dos principais políticos da federação emitiram sinal de que o grupo está cada vez mais distante de Lula para 2026 e mais próximo da oposição, embora conte com quatro ministérios. Pelo governo, compareceram os ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esportes), indicados por União e PP.

Na solenidade, não havia representantes do PT. Por outro lado, o evento contou com a participação do chefe do PL, Valdemar Costa Neto, e do líder do partido de Bolsonaro na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ).

 

 

Elogio a Bolsonaro

ACM Neto, vice-presidente do União Brasil, elogiou Bolsonaro ao chegar à cerimônia no Congresso. — Bolsonaro é um personagem político com tamanho e densidade eleitoral inegável no campo da direita. Ninguém pode querer construir um projeto de enfrentamento ao PT sério, competitivo e vitorioso sem considerar isso — afirmou.

 

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), que tenta se viabilizar como candidato a presidente, fez um discurso em que citou diretamente a disputa eleitoral.

 

— Hoje, nessa federação dos dois grandes partidos, transferimos a todos nós a responsabilidade sobre nossos ombros. (Temos que) saber ganhar o processo eleitoral de 2026. Esse é desafio, estamos aqui construindo um novo rumo para o país.

 

A federação será inicialmente presidida de forma conjunta pelos presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antonio Rueda, o que desagradou o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), que gostaria de estar à frente do grupo. Os dois são próximos do bolsonarismo e tentam construir com o ex-presidente um acordo para 2026. Um dos nomes que poderia representar o campo na disputa é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na terça-feira, durante evento em São Paulo, o presidente do PSD, Giberto Kassab, afirmou que, se Tarcísio se candidatar, a centro-direita não terá outro nome.

 

— Mas, se ele for candidato, a centro-direita não lança nenhum outro candidato. (Ronaldo) Caiado não sai, Ratinho (Jr.) não sai, (Romeu) Zema não sai, Tereza Cristina não sai — disse Kassab.

 

Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), também estiveram no evento. Após o Republicanos recusar fazer parte da federação, Motta fez um aceno aos partidos e disse que a sigla tem afinidade e é “parceira” no campo da centro-direita. Já Alcolumbre mencionou as dificuldades internas nos partidos, mas minimizou os atritos: — Muitas vezes somos chamados a decidir por um lado ou por outro lado, mas o caminho do equilíbrio, da ponderação, do diálogo, do entendimento, é o que faz um país do tamanho do Brasil seguir em frente.

 

Ciro Nogueira criticou o momento atual da economia do país. No documento divulgado como manifesto do grupo, há a análise de que os governos, desde a redemocratização, pouco fizeram para contribuir com o crescimento do país, inclusive as gestões do PT. O único exemplo positivo citado é o Plano Real, levado adiante por Fernando Henrique Cardoso. Os dois partidos pregam um “choque” e uma “reforma modernizadora do Estado”. É mencionada uma reforma administrativa, que visa alterar regras no serviço público, mas os partidos pedem transformações maiores.

 

Apesar da celebração nos dois partidos, a federação, obrigada por lei a funcionar como uma única sigla por ao menos quatro anos, enfrenta divergências internas e, em alguns casos, há conflitos internos até mesmo nas próprias siglas. Nove estados ainda precisarão ter as presidências definidas. Juntos, os partidos terão um fundo partidário quase bilionário, de R$ 954 milhões.

 

Entre os estados indefinidos estão São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que, por serem os principais colégios eleitorais, farão parte de uma negociação envolvendo diretamente as cúpulas nacionais dos dois partidos.

 

Já há acordo para a divisão do comando de 18 das 27 unidades da federação. O União Brasil vai ter o comando em nove estados, enquanto o PP indicará a presidência em outros nove. A divisão obedeceu a diversos critérios. Um deles estabelece que onde o partido tiver o governador haverá prioridade; outro diz que o número de deputados federais influencia.

 

Líderes nacionais das duas legendas conseguiram emplacar os comandos de suas bases. Alcolumbre fez seu partido conseguir o comando do Amapá, Caiado garantiu o de seu estado, assim como ACM Neto emplacou o seu grupo no comando da Bahia, e Lira de Alagoas, bem como Ciro Nogueira liderará no Piauí.

 

Impasses e divergências

Mesmo nos comandos já definidos há divergências. O deputado Mendonça Filho (União-PE) não concorda que seu estado fique com o PP. Assim como deputados do PP da Bahia, que são governistas, resistem a serem comandados pelo União Brasil, que é oposição ao governo estadual comandado pelo PT. No Amazonas, mesmo com o comando sob o União Brasil, o deputado Pauderney Avelino (União-AM) possui uma desavença com o governador Wilson Lima (União), que irá influenciar na federação. Todos esses parlamentares insatisfeitos ameaçam sair no ano que vem, no período da janela partidária.

 

Além disso, disputas internas desafiam definições de candidaturas nos estados para 2026. Em pelo menos 14 estados, divergências internas seguem em curso. Um dos embates mais relevantes se dá no Paraná: o senador Sergio Moro (União) aparece como o favorito nas pesquisas de intenção de voto para o governo. Embora conte com apoio unânime em seu partido, enfrenta resistência por parte do PP, que atualmente compõe a base do governador Ratinho Júnior (PSD), seu maior adversário.

 

(colaborou Luísa Marzullo)

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