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Caso Brazão: Cassação na surdina escancara corporativismo da Câmara

Por  Bernardo Mello Franco / O GLOBO

 

Numa semana marcada por morte do Papa, escândalo do INSS e prisão de Fernando Collor, a notícia passou quase batida. Não deveria. Na quinta passada, a Câmara cassou o deputado Chiquinho Brazão. Ele é acusado de planejar a execução da vereadora Marielle Franco.

 

Brazão foi preso em março de 2024 e responde a processo por homicídio e organização criminosa no Supremo. O que surpreendeu em sua cassação foi o pretexto usado pela Câmara. Réu por assassinato, ele perdeu o mandato por excesso de faltas.

 

Ao justificar a manobra, a Mesa Diretora citou artigo da Constituição que prevê a perda do mandato do parlamentar que “deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias”. O detalhe é que Brazão não faltou ao trabalho para passear. Enquanto os colegas batiam ponto em Brasília, ele estava atrás das grades de um presídio em Campo Grande.

 

A gambiarra foi costurada em segredo pelo deputado Hugo Motta. Sem avisar a imprensa ou os líderes partidários, ele mandou publicar a decisão em edição extra do Diário da Câmara. Quando a notícia veio a público, já era fato consumado.

 

Cassado por motivo fútil, Brazão não tem do que reclamar. Ao expulsá-lo por excesso de faltas, a Câmara o livrou de perder os direitos políticos por oito anos. Isso significa que ele pode ser candidato novamente em 2026, caso não tenha sido condenado em definitivo pelo Supremo. A solução também foi conveniente para a maioria dos deputados, que não precisou julgar o mérito das acusações contra o colega.

 

O desfecho do caso Brazão escancara mais uma vez o corporativismo da Câmara. O Conselho de Ética aprovou a cassação do deputado presidiário em agosto de 2024. Oito meses depois, a Casa não havia sequer marcado data para julgá-lo em plenário. Enquanto esteve na cadeia, ele continuou a receber salário, verba de gabinete e até gratificação natalina.

 

Ao assumir o comando da Câmara, Hugo Motta prometeu trabalhar pela “pacificação nacional”. Faltou dizer que isso incluiria acordões para beneficiar colegas acusados de assassinato.

 

 

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