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Alvos da PF por tentativa de golpe de Estado ou espionagem ilegal tiveram cargos de destaque no governo Lula

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— Brasília / O GLOBO

 

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva nomeou ou manteve em cargos de destaque ao menos sete alvos de investigações da Polícia Federal por suspeitas de participação em uma tentativa de golpe de Estado ou por espionagem ilegal de adversários políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro. Todos eles deixaram seus postos após o início das apurações. Um sétimo investigado chegou a ser condecorado com uma medalha pela gestão petista pelos serviços prestados.

 

O agraciado foi o coronel Bernardo Romão Correa Neto, preso na semana passada na Operação Tempus Veritatis, que apura uma suposta trama golpista. De acordo com a PF, Correa Neto ajudou a organizar uma reunião com militares das Forças Especiais do Exército, os chamados “kids pretos”, para discutir o golpe. Procurada, a defesa do militar não respondeu aos contatos.

 

Ele recebeu no ano passado a Ordem do Mérito Militar, considerada a principal do Exército. O decreto com a condecoração foi assinado por Lula e pelo ministro, José Múcio (Defesa), em março de 2023.

 

“Virtudes militares”

O Exército afirmou que, para receber a homenagem, os militares devem demonstrar “competência profissional, qualidade de trabalho e virtudes militares”. Em nota, a instituição acrescentou não dispor “de elementos concretos para tomar providências disciplinares ou administrativas” em relação a Correa Neto. Sobre a operação da PF, a Força diz estar colaborando com as investigações.

 

O governo Lula também alçou outros dois oficiais do Exército suspeitos de envolvimento na trama golpista a postos de chefia. Em junho de 2023, o tenente-coronel Guilherme Marques Almeida foi escolhido para comandar o 1º Batalhão de Operações Psicológicas, em Goiânia, e o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, a 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus. Os dois foram exonerados na última quarta-feira, após serem alvo de busca e apreensão.

 

Segundo a PF, os dois teriam ajudado a divulgar desinformação sobre o sistema eleitoral. Lima teria ainda participado do “núcleo operacional de apoio às ações golpistas”.

 

O terceiro é o general Estevam Theophilo, nomeado para chefiar o Comando de Operações Terrestres (Coter) em abril de 2022, ainda no governo Bolsonaro, mas que só deixou o cargo em novembro de 2023, após passar para a reserva. A PF diz que ele “teria consentido com a adesão ao golpe de Estado desde o que presidente assinasse a medida”, em referência a um decreto golpista que previa estado de sítio no país e a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Além do cargo, ele também fazia parte do Alto Comando do Exército. O GLOBO não conseguiu contato com a defesa dos três militares.

 

No caso sobre espionagem ilegal, três servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) suspeitos de terem ligação com o programa FirstMile foram mantidos em cargos-chave pelo atual diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa. A agência informou que, na época das nomeações, ainda não havia investigação e que, portanto, não havia fatos que impedissem a escolha.

 

Um dos mantidos foi Paulo Maurício Fortunato, nomeado como número 3 da agência em abril de 2023. No governo Bolsonaro, ele comandou a diretoria responsável por utilizar o programa secreto. Fortunato só deixou o posto em outubro do ano passado, por ordem de Moraes.

 

Na ocasião, o magistrado também determinou o afastamento de Paulo Magno Rodrigues Alves, diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Segurança das Comunicações (Cepesc) da Abin, e de Marcelo Furtado, que chefiou o Departamento de Operações de Inteligência da Abin.

 

Os dois foram apontados como responsáveis pelo FirstMile. Procurado, Fortunato não quis comentar. Os demais não foram localizados.

 

Um quarto alvo das apurações ganhou um cargo na própria PF . Em outubro, o delegado Carlos Afonso Coelho foi nomeado como coordenador de Aviação Operacional após ocupar cargo de confiança na Abin. Ele foi exonerado em janeiro, após ser alvo de uma operação. Em nota, a PF disse que “a indicação para a função está em consonância com sua experiência profissional”.

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