Veja o que é #FATO ou #FAKE na entrevista de Fernando Haddad ao G1 e à CBN
Por G1, O Globo, Extra, CBN, Valor, GloboNews, TV Globo e Época
O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, foi o entrevistado do G1 e da CBN nesta terça-feira (18).
A série de entrevistas contará com todos os presidenciáveis. Veja o cronograma completo.
A entrevista foi mediada pelos jornalistas Cláudia Croitor e Renato Franzini, do G1, Milton Jung e Débora Freitas, da CBN, e pelo comentarista Gerson Camarotti, do G1 e da CBN.
A equipe do Fato ou Fake checou as principais declarações de Fernando Haddad. Leia:
“A Petrobras foi a empresa mais rentável, foi a que mais aumentou o valor de mercado... Pega o valor que a Petrobras atingiu, o valor das ações da Petrobras durante esse período a que eu me refiro, de 2003 a 2012. Não teve uma empresa que teve maior valorização do que a Petrobras. [...] Quando nós assumimos a Petrobras, o governo, a Petrobras custava alguma coisa em torno de US$ 15 bilhões, o valor de mercado. Ela nunca valeu tão pouco quanto no fim do governo Fernando Henrique"
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: A Petrobras não foi a empresa que mais ganhou valor de mercado no período citado pelo candidato nem atingiu seu menor valor no fim do governo Fernando Henrique Cardoso. Ao menos outras 15 empresas listadas na Bolsa tiveram crescimento de valor de mercado muito superior ao da estatal no mesmo período.
Em dezembro de 2002, antes de o PT assumir o governo, a petroleira tinha valor de mercado de R$ 54 bilhões, ou US$ 15 bilhões, como diz Haddad. Em dezembro de 2012, a empresa era avaliada em US$ 124 bilhões na cotação da época, um aumento de 8 vezes. Já as Lojas Americanas, que estão no topo da lista das maiores valorizações, tiveram crescimento de 49 vezes — passando de US$ 178 milhões para US$ 8,8 bilhões. Em seguida, aparecem empresas como Duratex (aumento de 25 vezes), Bradespar e Ambev (23 vezes cada uma), além de Braskem, Klabin, Usiminas, Gerdau e Bradesco, que tiveram aumentos entre 14 e 21 vezes em seu valor de mercado.
Em relação ao valor bruto, a Petrobras também ficou atrás da Ambev no crescimento absoluto do valor de mercado. Enquanto a petroleira teve um ganho de US$ 109 bilhões, a cervejeira teve aumento de US$ 123 bilhões no período. A Petrobras também não atingiu seu menor valor de mercado no fim do governo Fernando Henrique Cardoso, como diz Haddad. Em outubro de 1998, ainda no fim do primeiro mandato tucano, por exemplo, o valor de mercado da Petrobras era de R$ 11,9 bilhões, ou US$ 10,03 bilhões.
A fonte dos dados citados são os Boletins Diários de Informações da Bolsa de Valores (atual B3) do período, que trazem os valores convertidos em dólar para os valores da época.
“Até 2016 a Lava Jato foi seletiva. Mas graças à pressão que foi feita, se liberou as informações sobre os outros partidos, sobre o Aécio Neves. A Lista de Janot mal foi coberta pela imprensa. O foco até 2016 era um só”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Em agosto de 2014, após ser preso duas vezes, Paulo Roberto Costa se tornou o primeiro investigado da Operação Lava Jato a firmar um acordo de delação premiada. Nela, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras detalhou o loteamento político da estatal, o cartel de empresas que atuavam no setor, o pagamento de propinas e os repasses aos partidos políticos. Por ser um indicado do PP à diretoria da empresa, vários alvos da investigação decorrente dessa delação eram filiados à sigla.
Em abril de 2015, com o auxílio de informações reveladas por Costa e outros investigados, a Operação Lava Jato prendeu os ex-deputados federais Luiz Argôlo, André Vargas e Pedro Corrêa. Nessa época, Argôlo era filiado ao Solidariedade, e Vargas, ex-petista, estava sem partido. Ex-presidente do PP, Corrêa cumpria pena no semiaberto por ter sido condenado no mensalão.
Partiu também de Costa informações que levaram, em 2016, o Supremo Tribunal Federal a abrir inquéritos contra os senadores Renan Calheiros, Edison Lobão, Romero Jucá, Valdir Raup e o ex-deputado federal Henrique Eduardo Alves, todos do PMDB.
Em 6 de março de 2015, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, morto em 2017, autorizou a abertura de 47 inquéritos contra políticos citados na "lista do Janot", como ficou conhecida a primeira relação de investigados na Corte em decorrência da Operação Lava Jato.
Nessa lista, estavam 32 integrantes do PP – entre eles o atual presidente do partido, Ciro Nogueira (PI) –, 7 do PMDB – inclusive os então presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ) – e 1 do PSDB – o senador Antonio Anastasia (MG).
As revelações, envolvendo todos esses partidos, foram amplamente noticiadas.
“Os quatro (diretores da Petrobras que foram presos) foram afastados pela Dilma um ano antes de a Lava Jato começar os seus trabalhos”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja o porquê: Em abril 2012, dois diretores da Petrobras que posteriormente foram presos na Operação Lava Jato – Roberto Duque e Paulo Roberto Costa – deixaram os cargos. De fato, a saída dos dois da direção da empresa se deu antes da Lava Jato, iniciada em 2014. Mas, ao contrário do que afirma o candidato, os diretores não foram afastados, e sim pediram para sair.
Na ata da reunião do Conselho de Administração da empresa, publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro em 25 de maio de 2012, consta que houve “renúncia” de Renato Duque da Diretoria de Engenharia e de Paulo Roberto Costa da Diretoria de Abastecimento.
A informação sobre a renúncia de Renato Duque já foi checada anteriormente pela equipe do Fato ou Fake, quando o candidato Fernando Haddad afirmou em entrevista ao JN que o ex-diretor foi afastado por Dilma Rousseff logo após tomar posse.
O ex-diretor da Área Internacional, Jorge Zelada, renunciou ao cargoem julho de 2012, também antes do início da Lava Jato, de acordo com comunicado divulgado pela própria empresa.
O outro ex-diretor da Petrobras preso na Operação é Nestor Cerveró. Ele foi o antecessor de Zelada na diretoria da Área Internacional e deixou o cargo em 2008. Em seguida, assumiu a diretoria financeira da BR Distribuidora e só foi destituído em 2014, quatro dias após o início da Lava jato.
“Todos os estudos do Ipea mostram o seguinte: quanto mais rico você é no Brasil, menos imposto proporcionalmente você paga. Quanto mais pobre você é no Brasil, mais imposto proporcionalmente você paga”
A declaração é #FATO. Veja o porquê: Diferentes estudos apontando a disparidade na cobrança de tributos de pobres e ricos foram elaborados por especialistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), como Marcelo Medeiros, Pedro Souza, Rodrigo Orair e Sergio Gobetti. Os trabalhos mostram que os mais ricos pagam proporcionalmente menos tributos que os mais pobres. Algumas das explicações para essa diferença são a progressividade limitada do imposto de renda e a baixa tributação dos rendimentos do capital, como os lucros e dividendos de empresas.
Em 2017, por exemplo, os 324 mil brasileiros das cinco faixas mais altas de renda receberam 22,7% de toda a renda declarada ao Fisco, mas pagaram apenas 16,2% do IR, como mostra a calculadora “Pirâmide do IR”, elaborada pelo G1.
Orair e Gobetti estimam que a alíquota cresce conforme o rendimento aumenta, mas somente de quem recebe de R$ 24,4 mil anuais até R$ 325 mil, quando atinge 12% dos ganhos. Quando a renda supera esse patamar, essa alíquota entra em trajetória de queda, chegando a 7% para quem ganha mais de R$ 1,3 milhão por ano.
“Cumprimos todas as metas de qualidade medidas pelo Ideb, que é o indicador oficial do Ministério da Educação
A declaração é #FATO. Veja o porquê: As metas do Ideb para o Brasil foram cumpridas quando Fernando Haddad estava à frente do Ministério da Educação. Haddad comandou a pasta de julho de 2005 a janeiro de 2012, durante os governos Lula e Dilma Rousseff.
Os resultados foram iguais ou superiores às metas nos indicadores divulgados em 2007, 2009 e 2011 considerando as três etapas do ensino: anos iniciais do ensino fundamental, anos finais do ensino fundamental e ensino médio. O Ideb é divulgado a cada dois anos.
A rede pública cumpriu as metas em todas as etapas nos indicadores divulgados em 2007, 2009 e 2011. Em 2011, porém, a rede privada não alcançou as metas do Ideb para os três ciclos. Já em 2009 a rede privada também não atingiu as metas do Ideb para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio.
"As universidades mais do que duplicaram as vagas de ingresso. Levei a universidade federal para 126 cidades brasileiras e escolas técnicas federais para outras 214 cidades brasileiras. O Prouni ofereceu 2 milhões de bolsas para jovens de baixa renda no meu período, criação minha e da minha esposa na gestão do ministro Tarso Genro
#NÃOÉBEMASSIM. Veja o porquê: Os dados de universidades e escolas técnicas estão corretos, mas há uma imprecisão em relação ao número de bolsas.
De acordo com o relatório "Expansão da Educação Superior e Profissional e Tecnológica", do Ministério da Educação (MEC), foram criadas 126 universidades federais durante o governo Lula, entre 2003 e 2010: eram 148 em 2002, e chegaram a 274 em 2010. Ainda segundo o relatório, o número de cidades atendidas cresceu em 116: eram 114 municípios atendidos em 2002, e chegaram a 230 em 2010.
Haddad diz que levou escolas federais para 214 cidades brasileiras. De acordo com o Ministério da Educação, entre 2003 e 2010, período do governo Lula, houve a entrega de 214 novas unidades de escolas técnicas da rede federal.
O Programa Universidade para Todos (ProUni) foi criado em 2004, segundo ano do primeiro mandato do ex-presidente Lula, quando Tarso Genro era ministro da Educação. No ano seguinte, Haddad assumiu a pasta e ficou até janeiro de 2012. No período, entre 2004 e 2012, o Prouni ofertou 1,382 milhão de bolsas e não 2 milhões como foi citado pelo candidato.
“Na minha opinião o que aconteceu em 2016 foi um golpe. Isso já foi reconhecido pelo Tasso Jereissati, ex-presidente do PSDB”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”, o senador Tasso Jeiressati, ex-presidente do PSDB, ao fazer uma avaliação pessoal sobre o que ele classificou como erros cometidos pela sigla, deu a seguinte declaração: “O partido cometeu um conjunto de erros memoráveis. O primeiro foi questionar o resultado eleitoral. Começou no dia seguinte (à eleição). Não é da nossa história e do nosso perfil. Não questionamos as instituições, respeitamos a democracia. O segundo erro foi votar contra princípios básicos nossos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT. Mas o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer. Foi a gota d’água, junto com os problemas do Aécio [Neves]. Fomos engolidos pela tentação do poder.” A entrevista foi veiculada no último dia 13.
Diferentemente da afirmação feita por Fernando Haddad, Jereissati não reconheceu ter uma havido “um golpe” em 2016. O senador não mencionou essa palavra na entrevista. O ex-presidente do PSDB votou a favor do impedimento de Dilma Rousseff durante a sessão no Senado, realizada em outubro de 2016, que confirmou o afastamento da então presidente do cargo, após votação feita, meses antes, na Câmara dos Deputados.
“Nós lutamos até os 47 minutos do segundo tempo para que o Brasil respeitasse um acordo internacional com a ONU, aprovado no Congresso Nacional, e desse a ele [Lula] a condição de ser candidato”
Não é bem assim — Foto: G1
#NÃOÉBEMASSIM. Veja o porquê: O Congresso Nacional aprovou, de fato, o Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, no dia 16 de junho de 2009. Contudo, para que o pacto tenha validade no país, é necessária a expedição de um decreto presidencial, o que não ocorreu até hoje.
No dia 17 de agosto deste ano, um parecer elaborado por dois integrantes do Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) – órgão formado por 18 especialistas independentes, sem poder decisório –, tendo como base este pacto, recomendou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula pudesse disputar a eleição até o julgamento dos recursos dele contra a sua condenação criminal. Com base nesta recomendação, a defesa de Lula recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O TSE acolheu, no dia 31 de agosto, a tese da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e, por 6 votos a 1, definiu que o pacto só teria validade após a expedição de decreto presidencial. No último dia 11, ao negar um recurso da defesa do ex-presidente Lula, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello seguiu o mesmo entendimento da PGR e da maioria do TSE.
O julgamento do mérito do pedido do ex-presidente junto ao Comitê de Direitos Humanos da ONU só deve ocorrer no ano que vem.