Preocupação do brasileiro com corrupção avança após crise do INSS, mostra pesquisa Ipsos
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Luis Felipe Azevedo— Rio de Janeiro / O GLOBO
Com um avanço de nove pontos percentuais em um mês, o temor da população com a corrupção financeira foi o tema que mais cresceu em maio e agora atinge 37% da população brasileira — valor acima da média mundial (26%). Os dados são da edição mais recente da pesquisa "What wories the world", do instituto Ipsos. Para Marcos Calliari, CEO da Ipsos, a alta reflete as consequências da revelação da fraude no INSS perante a opinião pública.
— Após um longo período em que a preocupação com corrupção estava razoavelmente estável, a fraude do INSS escancara desvios públicos com grande atenção — avalia.
A preocupação com a criminalidade permanece na liderança, tendo sido mencionada por 41% dos entrevistados. Ocorreu uma queda de cinco pontos percentuais em relação ao mês passado. O Ipsos aponta que o número — superior aos 33% da média global — reflete um “cenário marcado por episódios recorrentes de violência urbana, como ataques a comércios no Rio de Janeiro e o aumento de furtos em grandes capitais”.
O tema da saúde aparece numericamente em terceiro, com 36%, em um cenário de estabilidade. O panorama reflete o resultado da chegada do inverno e o avanço de doenças respiratórias, "que têm sobrecarregado o atendimento médico em diversas regiões", ainda de acordo com o Ipsos. Já a inflação e a desigualdade social empatam com 33% das menções — ambas com leve queda em relação ao mês passado. Na comparação com os 12 meses anteriores, as preocupações que apresentaram maior crescimento foram corrupção e inflação.
No Brasil, 63% acreditam que o país está no caminho errado, percentual estável em comparação ao mês anterior.C Para Calliari, os dados globais mostram rupturas “importantes”.
Na Argentina, a preocupação com a desigualdade chegou ao maior nível em dez anos (46%), em meio à pressão social diante das medidas de ajuste fiscal. Na França, o temor com a criminalidade voltou a crescer (5 pontos percentuais), impulsionado por episódios de violência urbana. E, nos Estados Unidos, preocupações com impostos (pelas novas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump) e com imigração são as que mais subiram no mês, enquanto inflação segue como a mais mencionada.
A pesquisa “What worries the world” foi realizada por meio de um painel on-line aplicado a 24.737 pessoas de 29 países, no período de 25 de abril e 9 de maio. No Brasil, foram cerca de mil respondentes entre 16 e 74 anos.
O Ipsos pondera que, no país, a amostra não corresponde necessariamente a um retrato da população brasileira, mas sim a uma parcela mais "conectada”, mais concentrada em centros urbanos e com poder aquisitivo e nível educacional mais elevados do que a média nacional.